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Quilombo dos Palmares: o que foi, onde ficava, e líderes

O Quilombo dos Palmares foi a principal resistência contra a escravização dos povos africanos no Brasil.

Sua estrutura e qualidade de vida virou lenda, aumentando significativamente as fugas para essa região durante os períodos de fome. Ele foi dirigido por grandes lideranças, entre elas estava Zumbi dos Palmares, um dos símbolos dessa luta.

Com uma resistência por mais de um século, o Quilombo dos Palmares foi considerado a pior ameaça contra os colonos portugueses. Vamos entender toda essa história agora.

O que foi o Quilombo dos Palmares?

A história do Quilombo dos Palmares só pode ser entendida a partir do significado do nome “quilombo”:

A palavra quilombo é carregada de história e existe no Brasil há mais de 650 anos, esse nome já era encontrada nos escritos dos colonizadores desde 1559.

Réplica da sede administrativa do Quilombo dos Palmares.

Réplica da sede administrativa do Quilombo dos Palmares (Foto: Wikimedia Commons)

O seu significado foi se apurando e modificando com o passar do tempo. Antes era a descrição de um grupo de escravos fugitivos que cabia às autoridades da época capturar ou exterminar de acordo com a lei vigente.

Mas ela se redesenhou como a forma de organização social de um grupo de pessoas em defesa de liberdade. A escravidão estava em todos os cantos das Américas, incluindo o Brasil, e os quilombos foram a forma de resistência mais utilizada contra essa prática.

Nos textos da época, que se deram por meio das confissões de pessoas capturadas e mortas pelos portugueses, é possível entender as habitações, as roças de plantações, a tecnologia e as pessoas que estavam nos quilombos.

Os documentos históricos não trazem as identidades dos habitantes de Palmares, mas uma lista de características, como origem e idade. Dados que eram coletados para a tentativa de aniquilamento dos quilombos através de estratégias de ataques.

Uma importante historiadora brasileira chamada Beatriz Nascimento trouxe pela primeira vez o estudo dos quilombos além dos textos dos colonizadores, a fim de entendê-los como forma de sobrevivência à escravidão.

A palavra quilombo tem origem nos povos bantus, que ocupam o leste e o centro do continente Africano. Essa palavra foi utilizada no século XVI para descrever os acampamentos dos guerreiros Janga, que resistiram muito tempo aos colonizadores.

O comercio de pessoas escravizadas era o mais lucrativo de todo o mundo nesse período.

Os primeiros quilombos da América surgiram no século XVI, junto com a ascensão do comércio de escravos. Sabemos que não somente no Brasil essa forma de resistência vigorava, mas em todos os locais em que a escravidão existia.

Os quilombos foram as formas de resistência mais utilizadas, sendo vista do século XVI até o século XVIII com o fim da escravidão.

O quilombo mais conhecido no Brasil foi o de Palmares, nomeado pelos seus habitantes como Angola Janga.

Onde ficava o Quilombo dos Palmares

O Quilombo dos Palmares tinha uma localização difícil. Situado na Serra da Barriga, que fica entre os estados de Pernambuco e Alagoas, e era bem afastado dos engenhos. O surgimento dele data do ano de 1580.

Serra da Batinga vista de mirante

Serra da Barriga vista de mirante (Foto: Wikimedia Commons)

Com a formação do quilombo, o acesso à serra, que já era difícil, foi ainda mais dificultado, uma vez que os quilombolas armaram estratégias para isso.

A ameaça constante dos colonizadores fez com que as passagens para o Quilombo dos Palmares fossem sempre vigiadas.

O pequeno agrupamento de pessoas escravizadas fugitivas se tornou um complexo de povoados, muito porque a segurança não permitia a nova captura de seus habitantes.

Embora o imaginário colonizador queira construir uma ideia de que os negros escravizados eram preguiçosos e pouco habilidosos, quase selvagens, a verdade é que eles eram grandes especialistas na fabricação de utensílios e no plantio de alimentos.

No Museu do Negro, em São Paulo, é possível ver as especialidades desses homens e mulheres que inventavam e fabricavam coisas que até hoje utilizamos no nosso dia a dia.

O Quilombo dos Palmares teve grande aproveitamento dessas habilidades, fazendo-o ser um grande produtor de alimento e na fabricação de utensílios, instrumentos musicais, armas e até mesmo metais.

O plantio era principalmente de milho, feijão e de batata doce. Toda a produção do Quilombo dos Palmares era comunitária e voltada contra a ameaça de invasão dos colonos.

Historia do Quilombo

Palmares conseguiu se manter como refúgio por mais de um século, sendo uma grande referência nos estudos sobre a escravidão e resistência negra.

Mais que uma lenda, Palmares era a pura realidade de uma resistência forte promovida pela população sequestrada da África.

O Quilombo dos Palmares era considerado um reino fora da África, reconhecida pelos brasileiros e africanos, devido a sua força e dimensão. Era o reino de Angola Janga, provavelmente por abrigar algumas realezas dessas duas nações.

Duas linhagens são comprovadas no início da história do Quilombo dos Palmares, a primeira a de Angola, fundada por M’bundu N’gola, que também deu origem ao nome do país Angola, e a segunda dos Jangas, os guerreiros africanos.

Uma das possibilidades de nascimento do Quilombo dos Palmares é pelas mãos da princesa guerreira Aqualtune, que antes de ser escravizada, liderava exércitos contra os colonos que invadiam a África em busca de mão de obra.

Aqualtune foi capturada e trazida para o Brasil como escrava de procriação, já que seu físico demonstrava intensa força para esse “trabalho”. Ela promoveu muitas revoltas, até conseguir fugir para a região da Serra da Barriga e montar a primeira resistência de Palmares.

Muitos herdeiros da realeza africana eram trazidos como escravos para o Brasil. A captura de reinos por outros reinos fazia com que esses nobres fossem vendidos para os europeus.

Além da realeza, vinham muitas figuras políticas importantes e até lideranças religiosas. Essas lideranças eram reconhecidas em solo brasileiro pelos negros escravizados, mesmo que fossem descaracterizados e subjugados como qualquer outro.

Os colonos consideravam a vinda dessas lideranças para as terras americanas como ameaça, ponto de foco para uma resistência.

As relações de poder com as lideranças eram reestabelecidas no Quilombo dos Palmares, havendo muito respeito e fortalecimento das raízes africanas.

Líderes do Quilombo dos Palmares

O primeiro grande guerreiro que liderou Palmares e que teve contato com os colonos foi Ganga Zumba. Ele carregava o mesmo nome dado aos reis da região de Imbangala, na África.

Ganga Zumba carregava longos cabelos com adereços que remontavam a realeza africana daquela região, identificando-o por onde passasse.

Estátua de Ganga Zumba no Parque da Serra da Barriga

Estátua de Ganga Zumba no Parque da Serra da Barriga (Foto: Wikimedia Commons)

Uma das características da escravidão era a descaracterização das pessoas, que tinham seus cabelos cortados, adereços arrancados e vestes novas, conforme a religião católica apontava como o certo.

Os nomes também eram retirados, ficando somente os dos senhores de engenho que tinham a titularidade sobre aquelas vidas.

As nações e reinos eram divididos, para que não se falassem a mesma língua, e então não combinassem revoltas e fugas.

O Quilombo dos Palmares resgatou todas as identidades dos povos africanos dando muita importância para a continuidade das nobrezas.

Como era o Quilombo

O Quilombo dos Palmares se tornou uma teia de povoados que se conectavam. Esses povoados se chamavam mocambos, e tinham uma estrutura muito complexa. Todo o território era pensado e articulado para ser protegido contra os ataques dos colonos.

Uma estratégia de defesa terrestre muito bem pensada que fez com que o quilombo resistisse ao longo de cem anos contra as investidas não só dos portugueses, mas dos holandeses também, que por um período de tempo se mantiveram em Pernambuco.

O lugar era totalmente fortificado. O seu principal mocambo, o dos Macacos, tinha como proteção uma muralha de mais de 5 km de extensão.

A morte de Ganga Zumba

O Quilombo dos Palmares foi alvo de muitos ataques. Na maioria deles, muito mal sucedidos, porque embora não tivessem muita munição e armas de fogo, os habitantes de Palmares eram treinados para a guerra.

A primeira expedição conhecida aconteceu em 1955, quando os colonos portugueses conseguiram capturar alguns moradores, e com isso descobriram como era a estrutura física do lugar e também a existência dos mocambos.

Durante esse período, Pernambuco passava por uma crise intensa que trazia muita fome à região. Isso porque os senhores de engenho e os colonos pensavam somente na plantação de açúcar para exportação e quase não sobrava a possibilidade de plantar alimentos para os habitantes locais.

Isso fez com que a fome aumentasse mais ainda para as pessoas escravizadas, que começaram a planejar fugas em massa para o Quilombo dos Palmares, entoando que lá era rico em alimentos.

Todos os dias muitas pessoas chegavam ao quilombo, fazendo aumentar significativamente o seu povoado nessa época, dando dores de cabeça aos colonos.

Com o tempo, principalmente durante esse período de fome, em que as fugas se intensificaram, as batalhas começaram a deteriorar o Quilombo dos Palmares, afetando parcialmente a sua estrutura e até mesmo destruindo alguns mocambos.

Ganga Zumba, o rei do Quilombo dos Palmares, tentando fazer com que os ataques cessassem, fez um acordo com os colonos portugueses, de que não receberiam mais fugitivos, e em contrapartida, todos os nascidos no Quilombo dos Palmares seriam livres.

Esse acordo não foi bem aceito pela população quilombola, que questionou a autoridade de Ganga Zumba, já que agora ele apartava aqueles que fugiam para lá em busca de proteção.

O acordo enfraqueceu Palmares, porque já não recebia fugitivos que tinham medo de serem devolvidos aos senhores. Os habitantes de lá também não aceitaram o acordo, e Ganga Zumba foi assassinado pelos seus súditos.

O surgimento de Zumbi dos Palmares

Zumbi, que era nascido em Palmares, e portanto livre, foi levantado como rei. Embora tenha nascido livre, Zumbi dos Palmares foi capturado ainda criança e vendido a um padre.

Zumbi dos Palmares foi assassinado em uma emboscada (Foto: Wikimedia Commons)

Por muitos anos permaneceu escravo desse padre, que o chamava de Francisco, um nome católico e não africano. Aos 15 anos de idade, Zumbi dos Palmares se rebelou contra a escravidão e fugiu novamente para o Quilombo dos Palmares.

Aos 17 anos de idade Zumbi dos Palmares liderou os habitantes guerreiros de lá contra a maior expedição feita pelos portugueses contra o quilombo, e venceu com êxito.

Essa expedição havia acontecido durante os últimos anos de Ganga Zumba, e estava lá por mais de 5 anos no principal mocambo do Quilombo dos Palmares, o mocambo dos Macacos.

Após vencer essa expedição, Zumbi dos Palmares virou então rei do quilombo e não aceitou mais o acordo de paz, nem outros que foram feitos.

A cada expedição dos colonos portugueses contra o Quilombo dos Palmares, Zumbi respondia com um ataque a algum engenho, libertando todos os escravos.

Ele se tornou a maior pedra no sapato dos portugueses porque dizia que não acreditava na liberdade só de alguns, ela deveria ser de todos.

Como acabou o quilombo

Em 1685 o governador geral de Pernambuco contratou uma tropa de bandeirantes paulistas para que atacassem e acabassem com o Quilombo dos Palmares.

Eles eram liderados por Domingos Jorge Velho, um comandante experiente em batalhas para a escravização de negros na África. Em 1691 os bandeirantes chegaram até o Quilombo dos Palmares, mas não obtiveram êxito e foram expulsos e massacrados.

Dois anos depois, em 1693 voltaram com um outro exército com mais de 9 mil homens e começaram uma batalha que durou 2 anos até conseguirem acabar com o Quilombo dos Palmares, no dia 20 de novembro de 1965.

Zumbi dos Palmares foi assassinado em uma emboscada e os habitantes do quilombo que resistiram foram degolados.

Quilombo dos Palmares hoje

Hoje em dia existe um povoado onde ficava o Quilombo dos Palmares, o nome é União dos Palmares e fica localizado no estado de Alagoas.

Resumo do conteúdo

Nesse texto você aprendeu que:
  • A palavra quilombo é carregada de história e existe no Brasil há mais de 650 anos
  • O Quilombo dos Palmares ficava na Serra da Barriga, que fica entre os estados de Pernambuco e Alagoas, e era bem afastado dos engenhos
  • Toda a produção do quilombo era comunitária e voltada contra a ameaça de invasão dos colonos
  • Palmares conseguiu se manter como refúgio por mais de um século, sendo uma grande referência nos estudos sobre a escravidão e resistência negra
  • O primeiro grande guerreiro que liderou Palmares e que teve contato com os colonos foi Ganga Zumba
  • Ganga Zumba fez um acordo com os colonos portugueses que não foi bem aceito pela população quilombola, então foi assassinado pelos seus súditos
  • Zumbi, que era nascido em Palmares, e portanto livre, foi levantado como rei
  • No meio de tantas batalhas vencidas, Zumbi dos Palmares caiu em uma emboscada, foi assassinado, e os habitantes do quilombo que resistiram foram degolados.

Exercícios resolvidos

1- Quando surgiu e onde ficava o Quilombo dos Palmares?
R: O surgimento do quilombo remonta ao ano 1580. Ele ficava na Serra da Barriga, que fica entre os estados de Pernambuco e Alagoas.
2- Quem foi o primeiro guerreiro que liderou Palmares?
R: Ganga Zumba. Ele carregava o mesmo nome dado aos reis da região de Imbangala, na África.
3- Qual foi o acordo que Ganga Zumba fez com os colonos portugueses?
R: Ele fez um acordo de que o quilombo não receberia mais fugitivos, e em contrapartida, todos os nascidos no Quilombo dos Palmares seriam livres.
4- Como Zumbi se tornou o líder do quilombo?
R: Ele liderou e venceu várias batalhas contra as invasões ao quilombo, e acreditava que a liberdade deveria ser de todos, e não apenas de alguns.
5- Quem matou Zumbi dos Palmares?
R: O comandante Domingos Jorge Velho.
Referências

» CARNEIRO, Edson. O Quilombo dos Palmares. Civilização Brasileira S. A: Rio de Janeiro, 1966.

» FREITAS, D. Palmares, a guerra dos escravos. Porto Alegre: Movimento, 1971.

» MOURA, C. Quilombos, resistência ao escravismo. São Paulo: Ática, 1987.

Sobre o autor

Historiadora e professora, com formação pela UNESA do Rio de Janeiro. Pós-graduada em edição editorial. Trabalha no ensino básico, cursinhos, ministra oficinas, é revisora e editora de livros. Sua pesquisa central é sobre livros, cinema e ditadura militar na América Latina.