Idade dos Metais

Os seres humanos estão em um processo constante de mudanças sociais. Nos deparamos com esse caminhar da civilização desde a pré-história em sua mudança da idade da pedra para a idade dos metais, última fase desse período. Ou também conhecida como nascimento da civilização.

É nesse período que características existentes na atualidade aparece como, por exemplo: metalurgia, armas e panelas. Objetos muito comuns na nossa sociedade, mas você sabe há quanto tempo eles estão conosco? Como era a nossa alimentação na idade dos metais? Ou quando surgiu os primeiros objetos de metais?

Vamos descobrir quando começou e terminou a idade dos metais. Qual é o seu significado e por que, a partir desse momento, surgem as primeiras formas da sociedade como conhecemos.

Características da pré-história e a idade dos metais

A pré-história não é um período de ausência de fatos humanos, de história. Categorizamos assim para entender que, durante essa fase, os humanos ainda não tinham o desenvolvimento da escrita ou a forma de viver que conhecemos.

Temos três fases fundamentais para entendermos aonde os humanos chegaram. A primeira chamamos de paleolítica, conhecida como a idade da pedra lascada.

Paleolítico

Nessa fase, os seres humanos utilizavam ferramentas rudimentares para a sua sobrevivência. A pedra lascada remete à principal ferramenta de caça. Pedras que eram afiadas em outras pedras, numa lapidação rudimentar.

Nesse momento os humanos não faziam uso da agricultura. Sua forma de comer alimentos vegetais era a partir da coleta na floresta. Seus frutos eram sazonais, apenas aqueles possibilitados pela estação e não existia nenhuma forma de plantação, vindo a ser desenvolvida apenas na idade dos metais. O que já nos dá os contornos sobre a história da alimentação na idade dos metais.

Já que os frutos eram sazonais, em algumas estações do ano, a habitação de localidades com invernos rigorosos faziam com que fosse necessária a constante mudança. Uma característica básica desta fase é a que os humanos eram nômades. Mudavam de local na busca de alimentos e climas mais amenos.

Imagem de ferramenta paleolítica

Armas e utensílios eram forjados tendo a pedra como matéria-prima (Foto: Reprodução | Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo)

É no paleolítico também que a manipulação do fogo foi desenvolvida. Fonte importante de sobrevivência. Com o fogo os humanos afugentavam animais, se aqueciam e cozinhavam alimentos, ação importante para a digestão e, consequentemente, para a manutenção de uma vida mais saudável.

Neolítico

A forma de moradia na idade dos metais começou a se formar no período neolítico, que é a fase anterior ao descobrimento dos primeiros metais. Nesse período os humanos começaram a ter a possibilidade de sedentarização, ou seja, começaram a habitar apenas um lugar, sem a necessidade de continuarem a ser nômades.

O período neolítico é chamado também de revolução do neolítico, isso porque é aqui que os humanos descobrem a agricultura. Essa mudança de nômade para sedentário só é possível com a plantação dos seus próprios alimentos. Com a estabilidade de moradia, os humanos começam a desenvolver uma especialização mais complexa. Grupos de pessoas se especializam na agricultura, outros, por exemplo, na domesticação de animais.

É no neolítico que alguns grupos de pessoas começam a criação de animais. Essa domesticação impulsiona o desenvolvimento humano, que já não precisa dispensar  tempo na caça, nem colocar a vida em risco.

Com essas mudanças, a sociedade começa a demandar de estruturas mais complexas. A pedra lascada aqui já não tem o efeito necessário. Neste ponto, se inicia o trabalho com os metais. É da necessidade de forjar materiais que mantenham a vida nos locais determinados, com a manutenção da agricultura, que a idade dos metais e as primeiras formas de estado se configuram.

O que é a idade dos metais

Acredita-se que a idade dos metais começa e termina por volta de 9 mil até 7 mil e 500 a.C. Como a escrita vai começar a se desenvolver nesse período, a precisão das datas não é algo determinável.

Com as alterações da forma de viver humana, as sociedades se tornam mais complexas, com necessidades mais complexas. Após o período neolítico, a descoberta de materiais como ferro, cobre e bronze (uma liga metálica de estanho e cobre), auxiliam na produção de peças que facilitam a vida.

Ferramentas do período neolítico

O manuseio do metal possibilitou a produção de ferramentas e armas (Foto: Reprodução | Slide Player)

Agora esses materiais começaram a ser inseridos no cotidiano. Com essa matéria-prima, os homens puderam fazer ferramentas mais elaboradas para cada necessidade, além de mais resistentes. Lanças e espadas também foram fabricadas, mas agora não só pensadas para a sobrevivência, e sim para caracterizar uma sociedade.

A idade dos metais é, então, esse primeiro passo para a construção de sociedades mais complexas, com estruturas e o surgimento das primeiras identidades de Estado. Agora a nossa forma de civilização dará os seus primeiros passos.

Idade do Cobre, Idade do Bronze e Idade do Ferro

A idade dos metais é dividida em idade do bronze, do cobre e do ferro. Em um primeiro momento o homem apenas extraia os materiais da natureza. Com o domínio do fogo, a metalurgia se fez possível. Nesse período o cobre era o material mais importante.

A primeira produção de metal foi por um acidente. Algumas pedras caíram na fogueira e percebeu-se que, com o derretimento e integração das pedras, gerava um material metálico maleável que poderia ser moldado para se transformar em lanças, materiais pontudos, espadas, entre outros.

O bronze é uma liga metálica formada pela junção de cobre e estanho. A descoberta dessa liga ficou conhecida como idade do bronze. Graças a sua maleabilidade, os humanos puderam produzir muito mais coisas, tornando-o muito importante nesse período.

Por volta de 1.200 a.C. os homens começaram a produzir os seus primeiros materiais em ferro. Esse período é determinante porque o ferro é mais rígido, e os produtos formados por ele são prioridade. A agricultura teve grande avanço com essa mudança. Esse é o último período tecnológico da pré-história, a idade do ferro. 

A formação de estados

Não é possível precisar ao certo como eram forjadas as lideranças dentro dos grupos humanos nos períodos paleolítico e neolítico, mas sabemos que lideranças eram levantadas para a manutenção da vida. Quanto mais sedentarizado o grupo, maior a complexidade das suas relações.

Na idade dos metais temos a especialização de grupos. Na agricultura temos pessoas especializadas no plantio e na colheita; na domesticação de animais temos pessoas especializadas na criação e abate. Nessa sociedade complexa temos a militarização para defesa dos grupos, não só contra os ataques da natureza, mas em defesa de outros grupos humanos.

Outra especialização importante é a do grupo de pessoas que administrará essa comunidade.

Os grupos humanos também estão em constante desenvolvimento cultural e religioso. Para a especialização de administradores dessas comunidades surge uma liderança que é importante ressaltar. A figura do sacerdote. Quem está apto a governar nesse período é aquele que tem em si a figura do guerreiro, capaz de cuidar da manutenção da vida dos seres integrantes do grupo, e do sacerdote, a voz de outro mundo que guiará os seres humanos pelos melhores caminhos.

Qual é a característica de Estado que estamos criando na idade dos metais? A teocracia. O governante é legitimado pela religião e é visto como um deus ou representante máximo dos deuses.

O surgimento dos Estados é a forma encontradas para a organização da produção de riqueza, como alimentos e outros, e a manutenção da vida dos grupos. Além da organização da sociedade como forma de estabilidade.

Com os processos de criação de Estados, as primeiras guerras de expansionismos começaram. Cada grupo tinha seu desenvolvimento de uma forma, alguns mais elaborados que outros. Pela primeira vez existiu guerra pela dominação do espaço. 

Alguns pesquisadores apontam a dificuldade em definir com a exatidão as formações das primeiras guerras. Como a escrita ainda não estava desenvolvida, foram encontrados vestígios de ossadas com sinais claros de morte por violência. 

Com a sedentarização, grupos que tinham maiores chances de desenvolvimento eram mais visualizados para tomada de guerra. Esses indícios arqueológicos apontam que é nessa formação de civilização que acontecem os primeiros conflitos armados em unidade, as guerras

O surgimento da escrita

A forma de viver dos humanos se tornou mais complexa. Existe organização e papéis criados para cada grupo de pessoas. Todas as formas de organização serão necessárias para a continuação desse estado, ainda mais nesse começo incerto.

Além dos materiais de defesa, como lanças e espadas, e os materiais para a agricultura, como o machado de mão, era necessária a criação de uma ferramenta de registro.

Para que essa sociedade se mantenha e se fortifique, os impostos são cobrados de todos, em suas variadas formas. A moeda é a troca e objetos de valor, não o dinheiro como conhecemos.

Surgiu a necessidade de se registrar os pagamentos, quem são os integrantes da comunidade, formas de passar adiante o conhecimento recentemente adquirido sobre alimentação e moradia.

O início desses registros é na forma de arte rupestre, considerada como os primeiros registros dos humanos. Eram desenhos de animais ou pessoas feitos nas paredes das cavernas, locais onde os seres humanos se abrigavam. No Brasil temos um importante polo de pesquisa conhecido como Serra da Capivara, localizado nos municípios piauienses de Canto do Buriti, Coronel José Dias, São João do Piauí e São Raimundo Nonato. Ainda é possível fazer a visitação nessas cavernas.

Pintura rupestre

A pintura rupestre surgiu da necessidade de se fazer registros sobre os acontecidos (Foto: Reprodução | IPHAN)

Com o passar do tempo as expressões precisaram ficar mais complexas. Com identidades gráficas mais unificadas. A escrita também tem as suas fases, passando pela pictórica até a alfabética, que tem como ponto de partida os hieróglifos, que carregam imagens, mas dão os contornos gráficos mais unificados.

Idade dos metais: porta para a Idade Antiga

Agora os seres humanos habitam um espaço determinado, cada grupo em uma região. Os utensílios de agricultura são forjados em metal, cada um elaborado de acordo com a necessidade. Não há a dependência dos frutos sazonais e a caça já é um elemento optativo, existe a criação de animais.

A alimentação na idade dos metais começa a deixar de ser um problema e vira uma questão de escolha. É possível escolher qual parte da flora pode ser ingerida, qual animal pode ser domesticado sem correr o risco de ataque, e a sociedade fica cada vez mais complexa com demandas diferentes. A metalurgia vai auxiliar na manutenção da sobrevivência, armas serão desenvolvidas.

Com essa sociedade os problemas serão outros. Acontecem as primeiras guerras e epidemias. Os humanos passam a conviver com os seus dejetos, doenças oriundas dessa forma de vida e começarão a aparecer. É aqui que a humanidade começa a entrar na Idade Antiga.

Referências

» FUNARI, Pedro Paulo; NOELLI, Francisco Silva. A pré-história do Brasil, Editora Contexto, 2015.

» ZAMBONI, Ernesta. Os antigos Habitantes do Brasil, Imprensa Oficial.

» PIVETTA, Marcos. Ocupação do “Brasil” primordial, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, 2018. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2018/02/15/ocupacao-do-brasil-primordial/. Acesso em: 29 de agosto de 2019.

» PIVETTA, Marcos. Agricultores e sedentários, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, 2017. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2017/02/13/agricultores-e-sedentarios/. Acesso em: 29 de agosto de 2019.

» MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Parque Nacional da Serra da Capivara, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/portal/visitacao1/unidades-abertas-a-visitacao/199-parque-nacional-da-serra-da-capivara. Acesso em: 29 de agosto de 2019.

Sobre o autor

Historiadora e professora, com formação pela UNESA do Rio de Janeiro. Pós-graduada em edição editorial. Trabalha no ensino básico, cursinhos, ministra oficinas, é revisora e editora de livros. Sua pesquisa central é sobre livros, cinema e ditadura militar na América Latina.