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O que é um acróstico?

A língua é regida por um caráter dinâmico, em que novas palavras, frases inteiras e, inclusive, poemas podem ser criados a partir de apenas uma letra. O acróstico é uma dessas possibilidades de recriação na língua.

O que é um acróstico?

Foto: Reprodução

O acróstico: um ato de recriação

Originário das palavras gregas Ákros (extremo) e stikhon (linha ou verso), o acróstico é caracterizado como uma espécie de recriação textual, como o resumo, resenha, esquema e a paráfrase, por exemplo. É um gênero de composição poética bem antigo, que consiste em formar palavras ou mesmo frases inteiras com as letras iniciais, intermediárias ou finais. O ato de recriar é uma importante ferramenta que nos permite expressar os nossos conhecimentos linguísticos, apoiados no vocabulário que já possuímos.

Na Antiguidade, os acrósticos já eram utilizados pelos escritores gregos e latinos e, na Idade Média, pelos monges. Na Língua Portuguesa, o acróstico apareceu no Cancioneiro Geral (do século XVI) e foi utilizado por Camões, no soneto CCIX.

O acróstico apresenta diversas variantes: o acróstico alfabético, no qual se vai enfileirando o alfabeto verticalmente; o mesóstico, em que as letras da palavra-chave aparecem no meio da composição; e os acrósticos em prosa, em que são utilizadas as letras do início de cada parágrafo.

Pode-se dizer que o acróstico engloba três funções, a saber:  uma busca de virtuosidade própria dos poetas palacianos; um caráter lúdico que designa um jogo de natureza sutil; um certo gosto pelo secreto.

Construção de um acróstico

Como construir um acróstico? Para a construção de um acróstico, podemos escrever, na vertical, nomes de pessoas (José, Ana…), personagens fictícias (Pinóquio, Cinderela…), um objeto (lápis, cadeira…), animais (cachorro, sapo…), ou qualquer frase que você queira etc.

Após isso, utilizando as letras colocadas na vertical como as iniciais de cada verso, pode-se construir um poema que se relacione com as palavras ou com a frase.

Exemplo de acróstico

Confira a seguir o poema que Ofélia Queirós dedicou a Fernando Pessoa:

Fazia bem em me dizer

E grata lhe ficaria

Razão porque em verso me dizia

Não ser o bom-bom para si…

A não ser que na pastelaria

Não lho queiram fornecer

D’outro motivo não vi.

Ir tal leva-lo a crer.

Não sei mesmo o que pensar

Há fastio para o comer?

Ou não tem massa pr’o comprar?!

 

Peço porém me desculpe

Este incorrecto poema

Seja bom e não me culpe

Sou estúpida, e tenho pena

O Sr. é muito amável

Aturando esta… pequena…

Sobre o autor

Formada em Letras (Licenciatura em Língua Portuguesa e suas Literaturas) pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), com certificado DELE (Diploma de Español como Lengua Extranjera), outorgado pelo Instituto Cervantes. Produz conteúdo web, abrangendo diversos temas, e realiza trabalhos de tradução e versão em Português-Espanhol.