Paráfrase e paródia: o que é e para que serve

Paráfrase e paródia são dois tipos de intertextualidade, isto é, um diálogo entre dois ou mais textos. A intertextualidade é um fenômeno que pode se manifestar de diferentes maneiras, propositadamente ou não.

Antes de vermos detalhadamente quais são as diferenças entre paráfrase e paródia, abordaremos o conceito de intertextualidade.

O que é intertextualidade?

A intertextualidade pode ser compreendida como a produção de um discurso baseada em um texto já estruturado, podendo ser construído de maneira implícita ou explícita. Quando ocorre de maneira explícita, as fontes nas quais determinado texto baseou-se ficam claras. A intertextualidade explícita pode ser encontrada nas citações, resenhas, resenhas e em anúncios publicitários.

Por sua vez, a intertextualidade implícita exige mais atenção e análise por parte do leitor, uma vez que não apresenta citação expressa da fonte.

Paráfrase e paródia: o que é e para que serve

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Existem vários tipos de intertextualidades, incluindo a paráfrase e a paródia, que abordaremos mais detalhadamente neste artigo.

Paráfrase

Proveniente do grego “para-phrasis”, a paráfrase caracteriza-se como sendo uma reafirmação de um texto pré-existente. Neste tipo de intertexto, há uma repetição do conteúdo ou um fragmento dele em outros termos, a ideia inicial é preservada. Em resumo, podemos afirmar que parafrasear um texto significa recriá-lo com outras palavras, mantendo a sua essência.

Vejamos os exemplos a seguir:

Canção do Exílio

(Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
(…)

Europa, França e Bahia

(Carlos Drummond de Andrade)

Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu tão esquecido de minha terra…
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!
(…) 

“Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, é o texto original. Foi parodiado e parafraseado diversas vezes, inclusive por Carlos Drummond de Andrade. Podemos observar que o texto de Drummond estabelece um diálogo com o poema de Gonçalves Dias, mas sem intenção satírica, mantendo o discurso original. Trata-se, portanto, de uma paráfrase.

Paródia

Na paródia também ocorre a recriação de um texto, no entanto, o autor se apropria de um discurso já existente e opõe-se a ele. Este tipo de intertextualidade é baseado em um caráter contestador. Há uma desvirtuação do discurso original, seja para criticá-lo ou para marcar uma ironia ou sarcasmo.

Observe os exemplos a seguir:

Poema de Sete Faces

(Carlos Drummond de Andrade)

Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai Carlos! Ser “gauche na vida”

(…)

Com licença poética

(Adélia Prado)

Quando nasci um anjo esbelto
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Carga muito pesada pra mulher
Essa espécie ainda envergonhada.

(…)

“Com licença poética”, de Adélia de Prado, é uma paródia do poema de Drummond. Já no início do texto, podemos observar a desconstrução do original, como o “anjo torto” que se torna um “anjo esbelto”, sem aceitar o destino marginal que lhe foi dado.

Sobre o autor

Formada em Letras (Licenciatura em Língua Portuguesa e suas Literaturas) pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), com certificado DELE (Diploma de Español como Lengua Extranjera), outorgado pelo Instituto Cervantes. Produz conteúdo web, abrangendo diversos temas, e realiza trabalhos de tradução e versão em Português-Espanhol.