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Primavera árabe

O Oriente Médio é uma das regiões mais instáveis do globo, isso porque historicamente é permeada por conflitos territoriais. A posição estratégica do Oriente Médio no entrecruzamento entre os continentes asiático, africano e europeu, faz com que a área seja disputada por vários agrupamentos, gerando conflitos por questões territoriais e culturais.

Há uma diversidade grande de povos e religiões habitando as terras do Oriente, onde os conflitos são ainda mais acirrados pela presença de um dos mais importantes e disputados elementos do globo, o petróleo.

Vários países da região viveram ou ainda vivem sob regimes autoritários, onde os direitos sociais são praticamente nulos, o que ocasionou a partir do ano de 2011 uma intensificação dos conflitos na região, evento que ficou conhecido no mundo todo com o nome de “Primavera Árabe”. 

O que foi a Primavera Árabe?

Cansados com a situação de repressão que já vinha durando décadas, bem como com a ausência de assistência social, os elevados índices de desemprego e os problemas derivados destes, a partir de 2011 e 2012, grupos da região do Oriente Médio passaram a manifestar seu descontentamentoos conflitos deixaram um expressivo saldo de mortos e significativas mudanças no mundo árabe.

Mapa Mundi com destaque para o Oriente Médio

A Primavera Árabe aconteceu sobretudo na região do Oriente Médio, onde há governos ditadores (Foto: depositphotos)

Os levantes começaram quando um jovem ateou fogo em seu próprio corpo na Tunísia (África do Norte) como força de protesto pelo desemprego, pela falta de justiça e pela necessidade de liberdade do povo. O ditador na época, Ben Ali, estava no poder há 24 anos, com medidas antidemocráticas, as quais se refletiam nas condições de vida da população local.

Ele foi o primeiro ditador a deixar o governo diante do levante popular que se iniciava, já que impulsionados pela atividade do jovem, muitas outras pessoas também começaram a se mobilizar. A Primavera Árabe foi, portanto, um evento de repercussão internacional que afetou as estruturas da política e da economia mundiais, gerando consequências sociais.

O movimento foi caracterizado por manifestações sociais no Oriente Médio, tendo iniciado na África e se expandido para outros países da região, os quais igualmente viviam sob regimes ditatoriais.

O movimento conseguiu a deposição de alguns ditadores na região, muitos dos quais foram assassinados. Ainda assim, apesar do eco produzido pelos movimentos, não houve a instalação de regimes democráticos na região, e a região vive sob uma grande instabilidade, com intensificação da ação de grupos extremistas e a continuação de conflitos. 

Como ocorreu?

Grupo protestando

Os protestos iniciaram devido ao descontentamento com os regimes ditatoriais (Foto: depositphtoos)

A Primavera Árabe começou na Tunísia, quando um jovem ateou fogo ao próprio corpo por ter tido as frutas e legumes que vendia apreendidos pela polícia.

O ato promovido pelo jovem foi uma forma de demonstrar o descontentamento em relação ao regime ditatorial no qual estavam vivendo as pessoas daquela região, especialmente em relação a repressão popular. O caso levou a comoção social e gerou manifestações a partir daquele momento por parte da população que se sentiu representada pelo ato do jovem.

Egito

O acontecido não foi uma ação isolada, já que mobilizações foram despertadas em outros locais do Oriente Médio também. A segunda mobilização aconteceu no Egito, onde as manifestações foram contra o regime de Muhammad Hosni Said Mubarak, e que, meses depois, deixou o poder.

Líbia

Outro país que enfrentou o contexto da Primavera Árabe foi a Líbia, no qual ocorreram os conflitos mais violentos do evento, onde o ditador Muammar Abu Minyar al-Gaddafi (conhecido como Muammar Kadafi), o qual estava há mais de quarenta anos no poder, foi morto

Síria

A Síria também foi palco dos movimentos da Primavera Árabe, onde os protestos ocorreram de 2011 até 2013, contra o regime de Bashar Hafez al-Assad, o qual estava no poder desde o ano 2000, tendo assumido o posto que já era ocupado por seu pai.

No caso da Síria, os movimentos foram amplamente combatidos pelas forças policiais, onde, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) teriam ocorrido dezenas de milhares de mortes.

Iêmen

Os protestos ligados a Primavera Árabe também ocorreram no Iêmen, onde começaram de forma mais pacífica, mas que foram reprimidos e revidados pelas forças ligadas ao ditador local, tendo culminado com vários mortos. Ali Abdullah Saleh foi um dos líderes derrubados pelos movimentos da Primavera Árabe. 

Outros

Outros locais que foram afetados pelas manifestações são: Marrocos, Argélia, Omã, Arábia Saudita, Kuwait, Qatar, Emirados Árabes, Bahrain, Iraque, Jordânia, Palestina/Cisjordânia e Palestina/Gaza.

Grupos rivais

De modo geral, as mobilizações auxiliaram na retirada do poder de representantes que estavam há décadas como líderes, e que exerciam regimes ditatoriais. No entanto, por outro lado, a instabilidade dos governos na ocasião gerou condições para o acirramento dos conflitos entre grupos rivais que já atuavam na região.

Foram ainda mais intensificados, por exemplo, os confrontos entre os agrupamentos muçulmanos de ordem xiita e sunita, os quais disputam o poder no Oriente Médio, e que encontram ambiente propício diante da fragilização política dos países afetados.

Soldado em tanque de guerra

O desmonte de governos acirrou conflitos de grupos rivais, acarretando em guerra civil em vários países (Foto: depositphotos)

Regimes ditatoriais

Apesar dos levantes, a maioria dos países da região ainda se encontra sob regimes antidemocráticos, como monarquias. Muitos deles enfrentando as forças rebeldes de grupos religiosos, outros mantendo sua postura ultraconservadora, como no caso da Arábia Saudita.

A Síria entrou em uma intensificação de uma violenta guerra civil, a qual ficou conhecida no mundo todo. No ano de 2011, o Kuwait dissolveu o Parlamento e convocou eleições livres. A instabilidade na região impulsionou a ação do Estado Islâmico em alguns países da Primavera Árabe.

Para alguns, a maior herança (negativa) dos movimentos da Primavera Árabe teria sido o enfraquecimento dos governos mas que, em contrapartida, trouxe a expansão da atuação (e do medo) em relação aos grupos extremistas, e o Estado Islâmico parece ser o grande símbolo neste sentido. 

Referências

» A crise no Oriente Médio e a Primavera Árabe. UFRGS. Disponível em: https://www.ufrgs.br/ripe/wp-content/uploads/2017/05/primavera-%C3%A1rabe.pdf. Acesso em: 22 de novembro de 2017. 

» SILVA, Edilson Adão Cândido da. Geografia em rede. São Paulo: FTD, 2013.

 

Sobre o autor

Mestre em Geografia e Graduada em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Especialista em Neuropedagogia pela Faculdade Alfa de Umuarama (FAU) e em Educação Profissional e Tecnológica (São Braz).