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Sistema digestório humano – Órgãos e suas funções

Comer é uma das melhores coisas, não é?! Mas você já parou para pensar quão complexo é o caminho do alimento por todo nosso sistema digestório (antigamente chamado de Sistema Digestivo ou Aparelho Digestivo)?

Nossas células precisam ser nutridas e para isso os alimentos são quebrados em pequenos pedaços (muito pequenos!), os quais podem então ser absorvidos por elas. Tudo que entra pela nossa boca pode ser digerido, inclusive os comprimidos que ingerimos.

Você sabia que a composição do revestimento dos comprimidos tem tudo a ver com o local onde eles serão digeridos? De acordo com a sua composição, fins terapêuticos e métodos de fabricação, as cápsulas dos comprimidos podem ter propriedades particulares. Veja abaixo qual é o caminho percorrido pelo alimento, como funciona o fantástico movimento peristáltico, entre outras coisas…

Estrutura do sistema digestório

Sistema digestório humano - Órgãos e suas funções

Foto: depositphotos

As enzimas digestórias

A digestão começa em nossa boca, e a partir dela até o final do tubo digestório, as enzimas (substâncias orgânicas, geralmente de origem proteica) atuam como catalisadoras (ou aceleradoras) de algum processo químico relacionado à digestão, como hidrólise, por exemplo.

As enzimas são substâncias bastante específicas, só aceleram processos que “combinem” com elas! Dessa forma as amilases, por exemplo, atuam apenas no amido, as proteases agem sobre as proteínas, as lipases sobre os lipídios, a lactase acelera o processo de hidrólise da lactose (transformando-a em glicose e galactose), e assim por diante. Algumas enzimas trabalham especialmente em certos órgãos, mais abaixo trataremos sobre isso.

Existem outras informações importantes sobre enzimas:

As enzimas geralmente têm seus nomes determinados de acordo com o substrato que se ligam ou a reação química que catalisam + o sufixo “-ase”. Dessa forma, se seguíssemos essa regra para todas as enzimas, teríamos apenas nomes como: amílase, citase, diastase, celulase, maltase, polimerase, etc… O problema é que nada nessa vida é simples, e toda regra tem uma exceção: existem algumas enzimas que ganharam seus nomes seguindo outra regra, como: emulsina, pepsina, ptialina, renina, tripsina, etc…

Grande parte das enzimas (ou holoenzimas) possui uma porção que é proteica (formada de proteína, chamada de apoenzima) e outra não proteica (chamada de cofator ou, se for orgânica, chamada de coenzima). A enzima começa a funcionar quando ela se encontra com o substrato (um reagente), formando o complexo enzima-substrato, seguida pela separação da apoenzima e da coenzima para fins específicos. Além disso, para que as enzimas funcionem, dentre outras condições ambientais, precisa-se de uma temperatura “ótima”, a qual pode variar de enzima para enzima.

Intolerância à Lactose

Você já parou para pensar o porquê da intolerância à lactose? A lactase é uma enzima que basicamente transforma lactose em galactose e glicose, e é essencial à digestão do leite.

Esta enzima é super comum em mamíferos jovens, os quais se alimentam de leite em abundância, porém os adultos podem ter a produção reduzida desta enzima, causando a dificuldade de digerir produtos como o leite e possivelmente causar a intolerância à lactose. Mas porque o teste de intolerância à lactose é baseado na medição de glicose e não de lactase? Justamente porque como foi dito acima, a enzima lactase quebra lactose em vários pedacinhos de galactose e… Glicose!

Os órgãos que compõe o sistema digestório

O sistema digestório é composto por:

  1. Tubo digestório, o qual é dividido em três porções: alta (boca, faringe e esôfago); média (estômago e intestino delgado composto por duodeno, jejuno e íleo); baixa (intestino grosso composto por ceco, cólon ascendente, transverso, descendente, curva sigmoide e reto).
  1. Órgãos anexos: glândulas salivares, dentes, língua (presentes na boca), pâncreas (responsável pela produção do suco pancreático), fígado e vesícula biliar (responsáveis pela produção e armazenamento da bile, respectivamente).

A boca

A boca é responsável pelo contato entre o tubo digestório e o meio externo. Este órgão é composto por dentes (32 unidades em um humano adulto), língua, palato duro (conhecido também como véu palatino ou céu da boca), úvula palatina (“campainha”) e glândulas salivares. É na boca que se inicia a digestão, através da mastigação e salivação.

Os dentes e a língua

Alguns dentes ajudam a rasgar certos alimentos, e outros a quebrá-los em tamanhos menores.  A língua, além de possuir as papilas linguais (as quais são responsáveis pela gustação), ainda ajuda a misturar os alimentos com a saliva (que contém enzimas do tipo amilase). Também possibilitam deixar os alimentos perto dos dentes, empurrá-los para a faringe, limpa os dentes, além de ser importantíssima para a fala. Além disso, o processo de mastigação ativa a produção de ácido clorídrico no estômago, e o material produzido após este processo é chamado de bolo alimentar.

A faringe

O caminho percorrido pelo bolo alimentar é o seguinte: boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso, reto e ânus.  O processo entre a boca e a faringe chama-se deglutição, ou seja, quando o alimento é engolido, podemos também falar que ele é deglutido. As tonsilas palatinas (também conhecidas como amídalas), órgãos que atuam em defesa do corpo, estão localizadas na faringe. A faringe atua tanto no sistema digestório quanto no respiratório, ela se comunica com: boca, cavidades nasais, laringe e esôfago.

A laringe

A dinâmica digestão/respiração é muito interessante. Quando engolimos algo, paramos de respirar durante alguns segundos, justamente porque o canal “faringe” está ocupado pelo que estamos engolindo e então não tem espaço para passar o ar… Interessante, não?!  Ainda sobre o processo digestão/respiração, a laringe (diferente de faringe), apesar de ter pouca relação com a digestão, possui uma estrutura que é importantíssima: a válvula epiglote (uma estrutura cartilaginosa), a qual evita que alimentos entrem no sistema respiratório.

O esôfago

O próximo órgão por onde o alimento passa é o esôfago, o qual possui forma tubular e aproximadamente 25 centímetros de comprimento. Nele, o bolo alimentar continua seu percurso em direção ao estômago (este percurso dura cerca de 10 segundos), com o auxílio dos movimentos peristálticos. Este movimento contribui para a digestão mecânica, e é tão eficiente, que mantém o fluxo do bolo alimentar mesmo que estejamos de cabeça para baixo.

Os movimentos peristálticos continuam atuando no estômago e auxiliam na mistura do bolo alimentar com o suco gástrico (produzidos pelas glândulas da mucosa); esta mistura agora é líquida e passa a ser chamada de quimo, por isso, a digestão gástrica (que dura de duas a quatro horas) também pode ser conhecida como quimificação. Existem diferentes válvulas (glote, esfíncteres…) distribuídas pelo tubo digestório, e algumas destas “barreiras” encontram-se no esôfago e no estômago, como por exemplo, a piloro (a qual regula a passagem do quimo para o intestino).

O estômago

O estômago é uma grande bolsa expansível a qual é responsável pela digestão das proteínas. Apesar da mastigação ativar a produção do ácido clorídrico (o qual mantém a acidez estomacal) no estômago, o suco gástrico (composto de água, sais, enzimas e ácido clorídrico), só é produzido com a presença de alimentos proteicos no estômago.

Todo este ambiente oferece condições ideais para enzimas como a pepsina (principal enzima do estômago, a qual intensifica a digestão química), atuarem. Por possuir ácido clorídrico, o suco gástrico é bastante corrosivo, porém, normalmente ele não prejudica a parede do estômago, pois ela está protegida por uma mucosa especial. No entanto, se algo está em desequilíbrio e/ou se alguma válvula estiver com algum problema, doenças como gastrite, refluxo e esofagite podem surgir.

Nós ingerimos muitas bactérias (as quais ao longo do nosso crescimento são muito importantes para o desenvolvimento do sistema imune), no entanto poucas sobrevivem à acidez do estômago, a Helicobacter pylori (também conhecida como H. pylori) é uma delas. Ela pode nos causar problemas. A associação entre a sua presença no estomago e doenças gastrintestinais foi proposta pela primeira vez em 1983 por Warren e Marshall.

O Intestino Delgado

Depois do estômago, o produto que está sendo digerido é encaminhado ao intestino delgado, onde ocorre a maior parte da digestão e absorção dos nutrientes. Este órgão é dividido em três porções, duodeno, jejuno e íleo. No duodeno, são lançadas secreções como a bile, a qual é produzida pelo fígado e armazenada na vesícula biliar. Não contém enzimas digestivas, porém são capazes de quebrar as gorduras em pedaços bem pequenos, além de possuírem bicarbonato de sódio, o qual atenua a acidez do quimo. O suco pancreático, produzido pelo pâncreas, com várias enzimas que digerem proteína, carboidratos e lipídios; e o suco entérico, produzido pelo intestino, também conhecido como suco intestinal, possui enzimas capazes de digerir proteínas, carboidratos e outras substâncias. O jejuno e íleo são porções que complementam o processo ocorrido no duodeno. O produto final deste processo é uma pasta grossa, fermentada, com detritos não absorvidos e com algumas bactérias, conhecido como quilo, que segue o fluxo para o intestino grosso.

O Intestino Grosso

O intestino grosso, formado por ceco, cólon (ascendente, transverso, descendente e curva sigmoide) e reto; mede aproximadamente 1,5 metros de comprimento e seis centímetros de diâmetro, e é o último órgão por onde o produto da digestão passa. Até pouco tempo, considerava-se que o material encaminhado ao intestino grosso, era descarte, no entanto atualmente sabe-se que esse material serve como alimento para as bactérias presentes nesta região.

Além disso, neste órgão ocorre a absorção da água, armazenamento de certos nutrientes e eliminação de resíduos digestivos. O produto que chega ao ceco (primeira porção do intestino grosso) é chamado de bolo fecal, este mesmo produto segue o fluxo até o cólon onde fica estagnado por muitas horas. As fibras vegetais (como a celulose) não são digeridas e nem absorvidas pelo organismo, porém elas são importantíssimas para a formação do bolo fecal. Ao longo de todo o intestino grosso, a mucosa intestinal produz muco para que o bolo fecal seja hidratado, facilitando sua eliminação em forma de fezes pelo ânus (orifício localizado na porção final do reto).

Referências

» FERRON, M., RANCANO, J. (2007). Grande Atlas do Corpo Humano.

» STARLING, I. G., ZORZI, R.L.A. (2009). Corpo humano: Órgãos, sistemas e funcionamento. Rio de Janeiro: Senac.

» INFARMED (2002). Farmacopeia Portuguesa, 7ª edição. Ministério da Saúde.

Sobre o autor

Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e doutoranda em ciências pela Universidade de São Paulo (USP)