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Ultrarromantismo

Denomina-se Ultrarromantismo o movimento literário ocorrido na segunda metade do século XIX. Influenciada pelo escritor inglês Lord Byron, essa geração caracterizava-se pelo pessimismo, desgosto de viver, ócio, sentimento de inadequação e gosto pela morbidez.

É importante ressaltar que tais características já eram encontradas no Romantismo, no entanto, na estética ultrarromântica ocorreu um exagero desse sentimento de mal estar.

O ultrarromantismo desenvolveu-se não apenas na Europa, mas também no Brasil, quando, durante as décadas de 1850 e 1860, jovens poetas universitários de São Paulo e do Rio de Janeiro reuniram-se em um grupo, dando origem à poesia ultrarromântica brasileira.

Características do Ultrarromantismo

Pode-se afirmar que o período do Ultrarromantismo caracteriza-se, no geral, pela expressão plena de sentimentos pessoais e paixões, sendo influenciado por autores como Byron e Musset, que desenvolveram poesias com temática extremamente egocêntrica e sentimental, além do pessimismo doentio, sofrimento, fuga da realidade, tédio pela vida, obsessão pela morte e descrença de tudo, impregnando nos textos a desilusão e a tristeza.

Livro de poesia com óculos e caneta

No Brasil, Álvares de Azevedo foi um dos grandes representantes desse movimento (Foto: depositphotos)

Todas essas características eram lançadas nos textos, como uma maneira de desabafo egocêntrico e frustrado que envolvia o leitor emocionalmente.

Havia uma grande liberdade criativa do ser humano superior, sendo que o conteúdo tornou-se mais importante do que a forma para a poesia. Não são incomuns os erros gramaticais. A versificação é livre, assim como a fuga da realidade, o extremo subjetivismo, saudosismo, consciência da solidão, obsessão pela morte como uma solução para os sofrimentos e uso de sarcasmo e ironia.

Conhecido como “mal-do-século”, o romantismo desse período era caracterizado por pessimismo, apego à bebida e ao vício, além de atração pela noite, demonstrando temas macabros e satânicos (como Álvares de Azevedo fez).

Veja também: Os escritores do Romantismo

Na Europa

Lord Byron (1788-1824) é o principal nome do Ultrarromantismo, tendo influenciado toda uma geração, não apenas na Europa, mas também no Brasil. Dentre as suas principais obras encontram-se Peregrinação de Childe Harold (1811), O Corsário (1814) e O Cerco de Corinto (1816), nas quais o poeta já demonstrava o seu gosto pelo soturno e pela melancolia.

Além de Byron, podemos citar outros escritores renomados como Percy Shelley, Mary Shelley (criadora do romance gótico Frankenstein), Fletcher e John Polidori.A literatura romântica francesa e portuguesa também sofreu influências de Lord Byron, incluindo as obras de Vitor Hugo, João de Deus de Nogueira Ramos, Soares de Passos e Castilho.

No Brasil

A segunda geração romântica no Brasil corresponde ao período entre 1853 e 1869, sendo também conhecida por geração ultrarromântica, geração mal do século ou geração Byroniana. As principais temáticas dessa fase literária incluem a morte, tédio, insatisfação, amor não correspondido e pessimismo, e os escritores absorviam um estilo de vida boêmio e noturno.

Dentre as principais características da Segunda Geração Romântica brasileira estão o profundo subjetivismo, sentimentalismo exacerbado, melancolia, egocentrismo e individualismo, dúvida e ironia.

No Brasil, o período conhecido por Ultrarromantismo tem como marco inicial a publicação da obra Poesia (1853), de Álvares de Azevedo.

Principais autores brasileiros do Ultrarromantismo

Álvares de Azevedo

Manoel Antônio Álvares de Azevedo, mais conhecido simplesmente por Álvares de Azevedo, foi certamente o escritor que mais se destacou no período ultrarromântico brasileiro. Nascido em São Paulo, em 1831, publicou uma das obras mais importantes do gótico brasileiro, intitulada Noite na Taverna (1855), que traz toda a atmosfera mórbida daquela época.

Apesar de sua curta vida (faleceu aos 20 anos de idade), Álvares de Azevedo foi o melhor representante do movimento no Brasil. Suas poesias demonstram a concepção do amor do autor que, em determinado momento, expressava a mulher de forma idealizada como um anjo; e, em outro, a representa com um envolvimento erótico e bastante sensual. No entanto, em ambos os casos, a mulher é algo inalcançável para o autor.

Além disso, como é característico do movimento, Álvares de Azevedo demonstra também em sua poesia o sentimento de morte e a fuga da vida real para um mundo onde se vive sonhos e fantasias.

Em sua obra “História Concisa de Literatura Brasileira”, o crítico Alfredo Bosi afirma que é possível apreender, na obra do jovem escritor, as suas tendências para a evasão e para o sonho, além de cadências lamartineanas. Bosi também analisa o léxico da obra de Azevedo, destacando uma série de grupos nominais próprios da situação adolescente que, fugindo à rotina, acaba caindo nos aspectos mórbidos da existência. O crítico literário também aborda as imagens satânicas encontradas em contos macabros de A Noite na Taverna, e alguns verbos febris de O Conde Lopo e do Poema do Frade.

Segundo Alfredo Bosi,  Álvares de Azevedo também herdou de Blake e Byron a fusão de libido e instinto de morte. Suas principais obras são Lira dos Vinte Anos, Poema do Frade, Noite na Taverna, Macário, entre outras.

Veja também: Biografia e obras de Casimiro de Abreu

Casimiro de Abreu

Outro importante representante desse movimento foi Casimiro de Abreu, que foi um dos mais populares do ultrarromantismo. Com obras como As Primaveras foi que obteve sucesso. Nessa obra o autor posicionou as saudades da sua terra natal, além da infância e da família, contando também com relatos sobre suas desilusões amorosas e emoções do amor de sua adolescência.

Em “História Concisa da Literatura Brasileira”, o renomado crítico literário Alfredo Bosi afirma que o poeta Casimiro de Abreu operou uma descida de tom em relação à poesia de Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Junqueira Freire. Bosi destaca que não são os temas que distinguem Casimiro dos poetas citados, mas sim o seu modo de compor, que remontaria ao seu modo de conhecer a realidade na linguagem e pela linguagem. 

Junqueira Freire

Luís José Junqueira Freire foi um poeta brasileiro, nascido em Salvador, em 1832, e também é um dos representantes da segunda geração romântica brasileira. De acordo com o Alfredo Bosi, em Junqueira Freire é precisamente o convívio tenso entre eros e thanatos que sela a personalidade do religioso e do artista malogrado.

Ainda segundo o crítico, a obra Inspirações do Claustro pode ser lida como um documento pungente de um moço enfermiço dividido entre a sensualidade, os terrores da culpa e os ideais religiosos. Além de Inspirações do Claustro, Junqueira Freire produziu as seguintes obras: Contradições poéticas, Tratado de eloquência nacional e Ambrósio.

*Débora Silva é graduada em Letras (Licenciatura em Língua Portuguesa e suas Literaturas). 

Referências

» BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira.

Sobre o autor

Formada em Letras (Licenciatura em Língua Portuguesa e suas Literaturas) pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), com certificado DELE (Diploma de Español como Lengua Extranjera), outorgado pelo Instituto Cervantes. Produz conteúdo web, abrangendo diversos temas, e realiza trabalhos de tradução e versão em Português-Espanhol.