Química

Acidente do Césio-137 em Goiânia

Setembro de 1987 foi a data que mudou a vida das pessoas que moravam em Goiânia, cidade localizada no estado de Goiás.

Mais precisamente no dia 13, os moradores foram expostos a uma radiação de um elemento químico césio-137, esse acidente deixou vários moradores doentes e alguns deles morreram logo após a contaminação.

A ocorrência radiológica é um problema ainda presente na comunidade afetada, mesmo depois de terem passado 28 anos do desastre.

Acidente do Césio-137 em Goiânia

Foto: Pixabay

Esse foi o maior acidente radiológico da história do Brasil. E a nível mundial, só fica atrás das catástrofes das usinas nucleares.

Como ocorreu a contaminação?

Em Goiânia existia um instituto de radioterapia, chamado Santa Casa de Misericórdia. Porém, estava há anos abandonado.Com paredes destruídas e em ruínas, permitia o acesso de quem se aventurasse entrar.

Movidos pela curiosidade, dois catadores de sucata entraram na localidade e devido a falta de conhecimento e motivados pelo interesse financeiro, os dois homens pegaram um aparelho utilizado em radioterapias, o qual tinha sido encontrado em meio aos destroços restantes do prédio.

Com uma carroça de mão, levaram o aparelho para a casa de um deles e após cinco dias tinham retirado as peças de seus interesses e o restante foi vendido para Devair Alves Ferreira, um proprietário de ferro velho da cidade.

O mesmo, ao receber o equipamento, começou a desmontá-lo, juntamente com seus dois funcionários. Com essa ação, o empreendedor deixou o ambiente exposto à 19,26 g de cloreto de césio-137 (CsCl).

Esse cloreto é um pó branco, semelhante ao sal de cozinha, mas que no escuro adquire uma coloração azulada. Esse fenômeno encantou Devair, que chamou todos os seus familiares, amigos e vizinhos para ver sua descoberta.

Muitos deles ainda levaram um pouco do césio para casa. Com isso, após três dias do primeiro contato com o elemento, as pessoas apresentaram alguns sintomas. Tinha dado início ao pesadelo provocado pela radiação.

Os sintomas dos infectados

Náuseas, vômitos, tonturas e diarreias. Os sinais da radiação surgiu em várias pessoas de uma só vez. Sem saber do que se tratava, alguns procuram ajuda em farmácias, postos de saúde e até mesmo os hospitais.

Até então, os profissionais de saúde alegaram ser uma doença misteriosa e contagiosa. A principal medida tomada por eles foi a receita de medicamentos que controlassem esses sintomas.

Porém, a esposa de Devair, Maria Gabriela, desconfiada do elemento branco encontrado pelo marido, resolveu levar amostras para a vigilância sanitária da cidade. Lá foi constatado, no dia 29 de setembro, que os pacientes estavam com reações provocadas por um acidente radiológico de cloreto de césio-137.

A descoberta do causador do problema foi tardia para alguns pacientes, entre eles Maria Gabriela, sua filha e os funcionários de Devair. Esse, por sua vez, morreu sete anos após o ocorrido, vítima de um câncer, também provocado pela radiação.

Medidas tomadas pelo governo

O prefeito da época, juntamente com o governador do estado, ficaram em alerta depois do ocorrido. Foi preciso formar uma equipe especializada em radiação, para isso médicos e profissionais da Comissão Nacional Nuclear (CNEN) foram incumbidos de trabalhar no desenvolvimento de algum medicamento para controlar  a manifestação de infectados.

As primeiras medidas, no entanto, foram isolar todas as pessoas que tinham sofrido com a radiação, fazer uma limpeza profunda em suas casas e guardar todas suas roupas e objetos em caixas feitas especialmente para conter a radiação.

Depois, foram distribuídos medicamentos chamados de “azul da Prússia” e eles serviam para desfazer a expansão de césio no organismo e eliminá-lo por meio da urina e das fezes.

Consequências da contaminação

No auge do acidente, aproximadamente 1000 pessoas foram expostas a radiação. Desse total,  129 apresentavam a contaminação externa e interna de césio no corpo.

Algumas delas foram medicadas e os sintomas foram revertidos, entretanto 49 pessoas foram internadas e dessas, 21 passaram por um tratamento intensivo, sendo que quatro não sobreviveram.

Após décadas, os estragos provocados pela radiação não acabaram. Estima-se que após 25 anos, 104 pessoas morreram devido aos problemas desencadeados pela contaminação, decorrentes de câncer e outros problemas de saúde.

Esse caso destruiu a vida de muitas famílias e desvalorizou o preço dos imóveis que estavam naquela localidade. Além disso, as pessoas que lá viviam passaram por muito preconceito, devido ao medo que outras tinham de serem contagiadas pelo césio.

Atualmente, o bairro sobrevive normalmente, mas os moradores reclamam que o estado não disponibiliza os remédios necessários para aqueles que sofrearam com a contaminação.