Diante disso, o biorregionalismo seria um território dotado de vida, definido a partir das formas de vida que se desenvolvem neste. Para isso, são levados em consideração os aspectos físicos (relevo, altitude) e a biota, ou seja, as formas de vida que se desenvolvem neste. Seria, assim, um ambiente regido pelas leis da própria natureza.
No entanto, isso esbarra com a necessidade do homem de a tudo dominar, modificando e alterando as leis naturais, o que cria um desequilíbrio. O reconhecimento de um espaço, uma biorregião, leva em consideração uma vivência equilibrada, com respeito às dinâmicas ambientais.
Em um ambiente de “região de vida”, espera-se que as formas de vida sejam respeitadas, bem como seu tempo de desenvolvimento, evitando-se a inserção forçada de elementos externos.
O biorregionalismo traz uma proposta muito interessante para a humanidade, que é a percepção acerca do meio, fazendo com que as pessoas se tornem mais conscientes dos danos ocasionados pela sua ação no meio através de práticas invasivas e exploratórias.
A questão do biorregionalismo é bastante complexa, isso porque envolve um dos conceitos fundamentais do conhecimento geográfico, que é a região. A questão é ainda pouco debatida entre os pesquisadores, o que faz com que seja de difícil definição ou conceituação.
Para alguns pesquisadores, o biorregionalismo surge mais como uma filosofia do que propriamente como uma definição com conceitos bem definidos e um método de análise.
De modo bastante amplo, o biorregionalismo seria uma prática que observa um dado local da superfície terrestre segundo alguns aspectos, como os sistemas naturais que o constituem, atrelando-se ainda os sistemas sociais.
Ou seja, não se considera apenas o ambiente, nem tampouco apenas o homem, mas uma integração destes no meio. Essas relações entre o homem e a natureza seriam as quais dariam a sustentação à ideia de “lugar”, um dos conceitos fundamentais da geografia também.
Assim, não se trataria apenas de reconhecer os elementos físicos que formam uma paisagem, mas perceber as relações que estes estabelecem entre si, e como se relacionam com o homem.
Neste sentido, como filosofia, a ideia do biorregionalismo seria uma busca pela compreensão, as percepções e o respeito pelo próprio ambiente natural, mas também cultural, que há ao entorno do homem.
A natureza tem uma dinâmica própria, onde tudo se renova constantemente e as espécies se relacionam de modo equilibrado. Mas a atuação do homem sobre este meio carrega consigo os anseios humanos de dominação espacial e de obtenção do máximo possível de vantagens acerca dos elementos da natureza.
Isso acaba por afetar os ecossistemas [2], fazendo com que haja um desequilíbrio nos ambientes, ocasionando, inclusive, a extinção de espécies da fauna e da flora.
Como não há possibilidade de retirada da ação humana na natureza, a solução é criar mecanismos para que os danos sejam minimizados, buscando-se uma relação mais harmoniosa e respeitosa. E essa é a grande discussão no âmbito do biorregionalismo.
Existem alguns autores de destaque que discutem a questão da biorregião. Um dos que mais tem aparecido em discussões como estas é Leonardo Boff, sujeito que é considerado como expoente da Teologia da Libertação no Brasil, o qual sempre traz importantes reflexões sobre a questão ambiental.
Para ele, as discussões socioambientais ainda ficam contidas em uma escala mais global, levando em consideração discussões como aquecimento global [3], consumismo, competitividade e política, dentre outras.
No entanto, em raros casos são debatidos os aspectos relativos à diversidade dos ambientes, considerando que cada ambiente tem uma dinâmica própria e que medidas globais não servem para todos os espaços.
Assim, considerar a biorregião representa também perceber a identidade dos locais e reconhecer que estes necessitam de medidas particulares.
A visão que se tem hoje difundida, especialmente pela globalização, considera a Terra como um todo homogêneo, num sentido de uniformidade. Essa ideia é interessante, porque desperta para as responsabilidades mútuas.
No entanto, essa visão mascara as individualidades culturais também, bem como as formas pelas quais as várias sociedades e povos se relacionam com o meio.
O conceito de biorregião atenta para a percepção da vegetação, das formas do terreno, de fauna e de flora. Além disso, mostra uma cultura local própria, considerando os hábitos, as tradições, os valores, os elementos religiosos e a história feita no local.
Com isso, entende-se que a região surge como conceito fundamental, mostrando que mesmo no interior de um projeto de totalidade, existem especificidades que devem ser levadas em consideração, visando-se uma integração qualitativa socioambiental.
Portanto, o biorregionalismo é uma nova forma de perceber as relações entre o homem e a natureza.