Uma pesquisa realizada em 2009 pelo Ministério da Educação (MEC) revelou que o preconceito atingia 99,3% das escolas no país na época. Entre as discriminações mais citadas estavam as contra portadores de necessidades especiais, grupos étnico-raciais e gênero. Oito anos se passaram e o quadro parece ter sido pouco alterado. Um levantamento de 2016, realizado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), revela que 32% dos homossexuais entrevistados haviam sofrido preconceito em salas de aula.
Para ajudar a reverter o problema, o curso de Pedagogia do Instituto Singularidades, em São Paulo, criou em seu currículo disciplinas que trabalham com os futuros professores a questão dos preconceitos. A professora Denise Rampazzo, mestre em educação pela Universidade de São Paulo (USP), percebeu que uma mudança no modo de pensar de seus alunos dependia de uma mudança em sua didática de aula.
Foi então que ela resolveu estruturar uma de suas disciplinas, Cultura Brasileira e Diversidades Étnicas, em três pilares: autoconhecimento, reflexão e ação. Ela constatou que os alunos tinham dificuldade em assimilar o que eram as práticas preconceituosas. “A maioria conseguia falar sobre o preconceito, mas 95% diziam que nunca sofreram. Há um certo mecanismo de naturalização do que são estas situações”, conta Denise.
A partir de tudo o que foi contatado por Denise, o desafio agora era colocar tudo em prática. O campo teórico da disciplina é trabalhado de forma a variar as fontes. Os alunos leem textos de autores com perspectivas diferentes, como Roberto Da Mata e Darcy Ribeiro, livros de escritores africanos ou assistem filmes que relatam lados opostos da Guerra Fria, por exemplo. “Isso é uma forma de diversificar o repertório”, aponta a professora.
Para a professora do Instituto Singularidades, o objetivo não é acabar totalmente com os preconceitos, mas conscientizar os alunos que o problema existe e que precisa ser combatido. “Meu papel é formar alunos críticos, e não alunos que pensam igual a mim. Muitos professores tem o orgulho de acharem que seu pensamento é o único e o correto”, reflete Denise.