Movimentos migratórios no Brasil

Os movimentos migratórios estão relacionados com as dinâmicas demográficas dos locais e são motivados por fatores de atração e repulsão. Ao longo da história do Brasil, vários movimentos migratórios foram importantes e eles continuam ocorrendo constantemente, seja em âmbito internacional ou interno.

O que são migrações?

Os fenômenos migratórios são, basicamente, deslocamentos populacionais. Existem duas categorias principais para definição da pessoa que migra: o imigrante (aquele que chega em um determinado local) e o emigrante (aquele que deixa um local). As migrações podem ser de diferentes tipos, dependendo da forma como estes deslocamentos são feitos. Existem as migrações internacionais, ou seja, quando os indivíduos migram de um país para outro. Elas podem também ser internas, ou seja, quando o indivíduo se desloca dentro do mesmo país, mudando apenas de região ou estado.

Além disso, existem ainda as migrações rural-urbanas, quando as pessoas deixam o meio rural para viverem nos espaços urbanos. Este fenômeno ficou bastante conhecido no Brasil como êxodo rural, e foi intenso no contexto da industrialização brasileira. Destacam-se também as migrações pendulares, que são aquelas que os sujeitos efetuam diariamente com a finalidade de trabalhar ou estudar em um local diferente de sua moradia.

Os movimentos migratórios dinamizam as sociedades, pois com a saída ou a chegada de pessoas, há uma mudança na configuração social. Podem ocorrer processos de hibridização cultural, miscigenação da população, mas também desestabilização econômica e de oferta de trabalho. Além disso, os fenômenos migratórios estão relacionados com preconceitos étnicos, religiosos e culturais.. Além de perseguições de cunho político, fuga das escassezes alimentares, econômicas e sociais, buscando melhores acessos à alimentação, empregos e desenvolvimento social

Movimentos migratórios no Brasil

Foto: depositphotos

Migrações no Brasil

Mesmo antes da chegada dos europeus para a colonização das Américas (aliás, que também não passou de uma migração), já havia um dinâmico fluxo migratório no que hoje denotamos como o território nacional brasileiro, mas estendendo ao espaço continental americano entre os povos indígenas, possibilitando trocas culturais, material e econômicas entres as civilizações pré-colombianas e tribos indígenas.

Após o século XVI, o território hoje compreendido pelo Brasil, passa a receber imigrantes portugueses (em toda faixa litorânea do Sudeste ao Norte) e espanhóis (ao Sul e Oeste) no sentido de explorar e colonizar o continente. Além destes, há uma migração francesa, no sentido de disputar territórios com as nações ibéricas (Portugal e Espanha) no Sudeste brasileiro e no Norte (Amapá). Ainda, no período colonial há migração holandesa no Nordeste, disputando a região com os portugueses.

Migrações forçadas

Em todo período de colonização, por parte dos europeus, do território brasileiro, são realizadas as “migrações forçadas”, de negros oriundos de várias partes do continente africano e de indígenas do interior do continente sul-americano como mão de obra escrava, no âmbito do desenvolvimento colonial.

Imigrantes extrangeiros

Após a independência, o Brasil passou por um intenso processo de imigração entre os anos de 1850 até 1934, quando o Estado brasileiro incentivava a vinda de imigrantes ao Brasil para trabalharem nas lavouras cafeeiras. Esse período teve como ponto central o fim da escravidão de africanos, o que gerou uma necessidade maior de mão-de-obra nas lavouras brasileiras. Muitos países estavam desestabilizados com o contexto da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e não haviam empregos suficientes para toda população. Mesmo com a reestruturação após a guerra, começava também um processo de industrialização e urbanização, o que expulsou do campo muitas pessoas, que vieram para o Brasil para continuar trabalhando no campo.

Êxodo Rural

Um segundo momento importante em relação às migrações no Brasil, foram as migrações internas, também chamadas de inter-regionais. Estas já vinham acontecendo durante toda história do Brasil, mas tiveram uma intensificação expressiva após 1934, quando há também registros de queda nas imigrações. Naquele contexto, a indústria paulista já possuía prestígio e se tornava um atrativo para pessoas de outras regiões do Brasil, principalmente nordestinos, que buscavam melhores condições de vida nos grandes centros.

No mesmo sentido, destacam-se também no Brasil as migrações rural-urbano, também chamadas de êxodo rural, as quais aceleraram-se após a década de 1950, com a crescente modernização do campo, industrialização e urbanização brasileira. Vários fatores influenciam este tipo de migração, como o crescimento demográfico maior do que as áreas cultiváveis, o que ocorre tanto pela diminuição das áreas físicas disponíveis, quanto pela monopolização das terras (formação de latifúndios).

Migrações pendulares

Também desde a década de 1950 vem se destacando no Brasil as migrações pendulares, as quais são caracterizadas como o movimento diário de pessoas nos grandes centros urbanos. Ou seja, é o movimento dos trabalhadores ou estudantes para que possam trabalhar ou estudar em outros municípios. Esse tipo de migração é mais comum de municípios menores, com menos infraestrutura e serviços, para municípios maiores, onde a oferta de serviços e as oportunidades de trabalho são maiores.

O Brasil no contexto das migrações recentes

Diante dos conflitos mundiais mais recentes, bem como das catástrofes naturais que assolaram alguns países ao redor do mundo, os fenômenos migratórios têm se intensificado na atualidade. As migrações são movidas por elementos de repulsão e elementos de atração. Nos casos mais recentes, como dos Sírios, os conflitos violentos têm sido caracterizados como fenômenos de repulsão das pessoas na Síria. Do mesmo modo, entende-se que o terremoto que atingiu o Haiti em 2010, foi um forte fator de repulsão da população local.

Imigração brasileira

Atrelado à isso, existem fatores de atração, ou seja, elementos que atraem os imigrantes. Exemplos disso são melhores condições de vida, ofertas de emprego, segurança contra conflitos internos, guerras civis e governos ditatoriais. As oportunidades de uma vida mais digna têm atraído pessoas para países como o Brasil, que constitui-se enquanto um país emergente. No Brasil, principalmente os frigoríficos de abate de aves na região Sul do país têm tido boa parte de suas vagas de emprego ocupadas por imigrantes.

Há uma diferença grande entre o imigrante que migra por questões econômicas e aquele que migra forçadamente. Muitas pessoas sofrem perseguições políticas, religiosas e culturais e são vítimas de violências diversas. Estas pessoas são amparadas por legislações específicas, e caracterizadas como refugiados. Elas são amparadas em outros países e não podem ser encaminhadas forçadamente de volta para seus países de origem. Basicamente, são consideradas pessoas que precisam de proteção.

Emigração brasileira

O Brasil é hoje um país que recebe uma significativa parcela de imigrantes, mas também são importantes os índices de emigração no caso brasileiro, embora não mais tão expressivos como nas décadas de 1980 e 1990. O que acontecem neste período foi muito semelhante ao que acontece no Brasil hoje. Os Estados Unidos eram o principal alvo dos brasileiros, onde haviam empregos que exigiam baixa qualificação e nos quais os estadunidenses já não tinham mais interesse. Hoje verifica-se fenômeno parecido no Brasil, especialmente com o uso de mão de obra estrangeira nos frigoríficos. Canadá, Japão e Paraguai também foram países para os quais muitos brasileiros migraram.

Migrações de retorno

Apesar da expressividade das migrações internacionais, no Brasil os fenômenos migratórios internos, dentro de uma mesma região, ou interestaduais são bastante comuns. Estes geralmente são motivados por fatores econômicos, ou seja, uma busca pela melhoria das condições de vida. Destacam-se ainda as migrações de retorno, as quais ocorrem quando os indivíduos voltam para seus locais de origem, seja pela saudade dos familiares ou por não adaptação no novo local de moradia, ou ainda, pela melhoria das condições no local em que habitavam anteriormente.

Curiosidades

A tela “Os retirantes” de 1944, pintada por Cândido Portinari, demonstra uma realidade social relacionada com o fenômeno migratório. Os personagens da tela são migrantes, com pouca bagagem, indo para um lugar incerto. Provavelmente tenham sido “obrigados” a deixar sua terra por conta das condições de vida precárias. Essa foi (e ainda é) a realidade de muitos migrantes, forçados pelas circunstâncias a abandonar o lugar onde construíram suas vidas. Abaixo segue reprodução da referida tela:

"Os retirantes", de Candido Portinari

Foto: Reprodução/ Dois pensamentos

 

Referências

»PATARRA, Neide Lopes. Migrações Internacionais de e para o brasil contemporâneo: volumes, fluxos, significados e políticas, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/spp/v19n3/v19n3a02.pdf>. Acesso em: 17 de abril de 2017.

»TEIXEIRA, Paulo Eduardo; BRAGA, Antonio Mendes da Costa; BAENINGER, Rosana (Orgs). Migrações: implicações passadas, presentes e futuras, 2012. Disponível em: < https://www.marilia.unesp.br/Home/Publicacoes/migracoes2_ebook.pdf>. Acesso em: 17 de abril de 2017.

»VESENTINI, José William. Geografia: o mundo em transição. São Paulo: Ática, 2011.

Sobre o autor

Mestre em Geografia e Graduada em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Especialista em Neuropedagogia pela Faculdade Alfa de Umuarama (FAU) e em Educação Profissional e Tecnológica (São Braz).