“Última flor do Lácio, inculta e bela,
és, a um tempo, esplendor e sepultura.” (Olavo Bilac)
“Como eram possível beleza e horror, vida e morte harmonizarem-se assim no mesmo quadro?” (Érico Veríssimo)
“A areia, alva, está agora preta, de pés que a pisam.” (Jorge Amado)
Observe que, no mesmo contexto, foram empregadas palavras que possuem sentidos opostos: vida x morte; beleza x horror.
O paradoxo utiliza-se, intencionalmente, de um contrassenso. Assim sendo, a contradição é a marca mais forte desta figura de linguagem, também denominada oximoro.
Confira o exemplo a seguir:
“Dor, tu és um prazer!” (Castro Alves)
A frase de Castro Alves mostra a dor, naturalmente ruim, associada à ideia de prazer. Observe que ocorre a união de ideias contraditórias, transformando-as em uma única.
Veja outros exemplos a seguir, retirados da “Novíssima Gramática da Língua Portuguesa”:
“Feliz culpa, que nos valeu tão grande Redentor!” (Santo Agostinho)
“O que não tenho e desejo é que melhor me enriquece.” (Manuel Bandeira)
Qual é, então, a diferença entre antítese e paradoxo? Como pudemos observar nas definições e exemplos anteriormente expostos, temos que, na antítese, as ideias contrárias estão, de fato, em oposição. Já no paradoxo, a aproximação de palavras opostos causa uma incoerência, uma contradição.
As figuras de linguagem são muito comuns em poesias. Em “Soneto da Separação”, um dos mais populares de Vinicius de Moraes, podemos observar a presença de antíteses. Leia o poema a seguir:
Soneto da separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Já o famoso poema de Luis Vaz de Camões é um exemplo de paradoxo encontrado na literatura. Leia o poema a seguir:
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?