Gramática,Português

Entendendo a próclise, a mesóclise e a ênclise. Aprenda a usar

“Dê-me um cigarro/Diz a gramática/Do professor e do aluno/E do mulato sabido/Mas o bom negro e o bom branco/Da Nação Brasileira/Dizem todos os dias/Deixa disso camarada/Me dá um cigarro”. Em seu poema intitulado “Pronominais”, o grande poeta Oswald de Andrade aborda a questão da colocação pronominal que, sem dúvidas, provoca muitas dúvidas nos falantes da Língua Portuguesa.

A gramática normativa prescreve que os pronomes oblíquos átonos (me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes) devem ser colocados em certa posição na frase, de acordo com algumas regrinhas.

Conforme a sua posição junto ao verbo, os pronomes oblíquos átonos podem ser: proclíticos (antepostos ao verbo), mesoclíticos (intercalados no verbo) e enclíticos (pospostos ao verbo).

Entendendo a próclise, a mesóclise e a ênclise

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Próclise

Empregamos a próclise (pronome átono antes do verbo) nos seguintes casos:

1) Palavras de sentido negativo:

-Não o maltratei.
-Nada o perturba.
-Nunca te importunei.

2) Pronomes relativos:

-A pessoa que me contou era minha amiga.
-Conheces o homem por quem te apaixonaste?
-Há pessoas que nos querem bem.

3) Conjunções subordinativas:

-Quando nos viu, afastou-se.
-É necessário que a deixe no hospital.
-Disse-me que não iria à festa, ainda que a convidassem.

4) Certos advérbios:

-Aqui se tem amor.
-Sempre me lembro dele.
-Indaguei como se chega lá.

Observação: De acordo com Domingos Paschoal Cegalla, em sua obra “Novíssima Gramática da Língua Portuguesa”, se houver pausa depois do advérbio, este deixará de atrair o pronome, prevalecendo a ênclise.

Exemplo: “Depois, encaminhei-me para ele.” (Said Ali)

5) Pronomes indefinidos tudo, nada, pouco, muito, quem, todos, alguém, algo, nenhum, ninguém, quanto:

-Tudo se acaba.
-Nada me incomoda.
-Pouco se sabe a respeito desse escritor.

6) Palavra “só”, no sentido de “apenas”, “somente”, e as conjunções coordenativas alternativas “ou… ou”, “ora… ora”:

-Só me ofereceram um copo d’água.
-O rio, ora se estreita, ora se alarga.

7) Orações optativas cujo sujeito estiver antes do verbo:

-Deus o guarde!
-A vida lhe seja leve!

8) Em frases exclamativas iniciadas por palavras exclamativas:

-Quanto nos custa dizer a verdade!
-“Que de coisas me disse a propósito da Vênus de Milo!” (Machado de Assis)

9) Em frases interrogativas:

-Quando me visitas?
-Quanto me cobrará pela revisão?

Mesóclise

A mesóclise é utilizada somente quando o verbo estiver no futuro do presente ou no futuro do pretérito, desde que antes do verbo não haja palavra que exija a próclise.

Exemplos:

-Realizar-se-á, na próxima semana, uma reunião dos dirigentes dos clubes.
-Falar-lhe-ei a teu respeito, na primeira oportunidade.
-“Dir-me-á o leitor que a beleza vive de si mesma.” (Machado de Assis)

Se houver palavra atrativa, a próclise será obrigatória. Observe os seguintes exemplos:

-Não lhe pedirei nada.
-Ninguém se importaria.

É importante ressaltar que, de acordo com o gramático Cegalla, a mesóclise é colocação exclusiva da língua culta e da modalidade literária.

Ênclise

A ênclise (pronome átono após o verbo) é empregada nos seguintes casos:

1) Nos períodos iniciados pelo verbo (que não seja o futuro):

-“Diga-me isto só, murmurou ele.” (Machado de Assis)
-Dê-me o livro.

2) Nas orações reduzidas de gerúndio, quando não houver palavras atrativas:

-“O anão chegara-se a Inocência, tomando-lhe uma das mãos.” (Visconde de Taunay)

Observação: Se o gerúndio vier antecedido da preposição “em”, ou modificado por um advérbio, a próclise deve ser utilizada.

Exemplos:

-Em se tratando de um caso urgente, nada o retinha em casa.
-Não o achando na rua, voltei desanimada.

3) Orações imperativas afirmativas:

-Procure seus amigos e convide-os.
-“Romano, escuta-me!” (Olavo Bilac)

4) Infinitivo não flexionado, precedido da preposição “a”, em se tratando dos pronomes “o”, “a”, “os”, “as”:

-Todos corriam a vê-la.
-Começou a ignorá-lo.
-“Sabe ele se tornará a vê-los algum dia?” (José de Alencar)