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Folclore brasileiro: o que é, lendas e principais personagens

O folclore brasileiro é uma das nossas riquezas culturais. Por isso, é importante saber o que é, suas lendas e principais personagens. E se engana quem pensa que esse é um assunto restrito às bancas escolares ou acadêmicas, o folclore brasileiro faz parte do nosso dia a dia através da música e literatura.

Neste artigo, você conhecerá mais sobre o folclore brasileiro, suas raízes, danças, mitos e tudo o que envolve esse vasto campo do conhecimento. Confira!

O que é Folclore brasileiro

O folclore significa: cultura popular, tradição, costumes tradicionais, populário, demopsicologia, demologia. As palavras também têm ligação com o estudo das tradições de um povo (folclorismo), sequência de acontecimentos reais ou fictícios, podendo ser uma história, saga ou lenda.

O folclore brasileiro pode ser sinônimo de “história criada apenas na imaginação, por meio da fantasia, imaginação, invenção, invencionice, mentira, delírio, enredo.

Saber o que é o folclore brasileiro e usufruir do patrimônio é algo garantido pela Constituição Federal de 1988 defende “o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”.

Quando o folclore passou a ser valorizado?

Mas nem sempre o folclore foi visto com bons olhos. No mundo inteiro, a cultura era algo relacionado às ciências e elites. Algo bem distante do povo. Foi somente no século 18, que alguns intelectuais europeus passaram a pesquisar e relatar alguns costumes de determinados grupos.

Com isso, os estudiosos começaram a empregar o termo “cultura do povo ou cultura popular” para reconhecer como legítimas as manifestações do povo.

E tudo começou pelas músicas. Isso porque a única forma à época para documentar uma música, era escrevê-la. Daí muitas cantigas e canções passaram a ser anotadas e preservadas para as futuras gerações. Começava aí, o registro folclórico dos povos europeus.

Vale lembrar que a palavra povo sempre foi vista com bastante preconceito. A obra de Burke (1989 p. 49), lembrada pela pesquisadora Loreci Maria Biasi, chega a afirmar: “de quem é a cultura popular? Quem é o povo?”.

Veja também: Literatura de cordel [7]

Biasi explica: “ele (Burke) frisa que, ocasionalmente, o povo era definido como todas as pessoas de um determinado país. Na maioria das vezes, o termo era mais restrito. O povo consistia nas pessoas incultas, como na distinção de Herder entre Kultur der Gelehrten e Kultur des Vo1kes. Às vezes, o termo se restringia ainda mais. Herder escreveu que o povo não é a turba das ruas, que nunca canta, nem compõe, mas grita e mutila”.

Contudo, essa percepção foi sendo apagada com o passar dos anos e, atualmente, o que vem do povo não é mais visto como algo desprezível, mas sim como algo cultural, de valor inestimável e que merece ser preservado e ensinado de geração em geração.

Carta do Folclore Brasileiro

Para valorizar as tradições culturais brasileiras, foi escrita a Carta do Folclore Brasileira em 1951. Ela foi um marco para a concepção do que hoje entende-se como nosso folclore.

O documento foi redigido durante o I Congresso Brasileiro de Folclore, que aconteceu no Rio de Janeiro. Anos depois, em 1995, na oitava edição do evento em Salvador, a carta foi atualizada.

Confira agora trechos do seu conteúdo, que pode ser consultado na íntegra no site da Fundaj.  [8]Selecionamos os trechos mais relevantes que trazem orientações oficiais sobre o conceito, pesquisa, ensino e educação, documentação e turismo.

Conceito

“Folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade. Ressaltamos que entendemos folclore e cultura popular como equivalentes, em sintonia com o que preconiza a UNESCO. A expressão cultura popular manter-se-á no singular, embora entendendo-se que existem tantas culturas quantos sejam os grupos que as produzem em contextos naturais e econômicos específicos”.

Pesquisa

“A pesquisa folclórica produtiva será aquela que constituir avanço teórico na compreensão do tema e em resultados práticos que beneficiem os agrupamentos estudados, objetivando também a auto-valorização do portador e do seu grupo quanto à relevância de cada expressão, a ser preservada e transmitida às novas gerações”.

Ensino e educação

“Orientar a rede escolar para que as datas relativas ao Folclore e Cultura sejam comemoradas como um conjunto de temáticas que devem constar dos conteúdos das várias disciplinas, pois configuram expressões em diferentes linguagens – a da palavra, a da música, a do corpo – bem como técnicas, cuja prática implica acumulação e transmissão de saberes e conhecimentos hoje sistematizados pelas Ciências. Instruir os professores para que motivem seus alunos, em tais datas, a estudar manifestações do seu próprio universo cultural”.

Veja tambémA origem do Dia das Bruxas (Halloween) [9]

Documentação

“Recomenda-se que a documentação deve ficar sob a guarda de instituições apropriadas, ligadas ao estudo e à pesquisa do folclore, como museus, fundações, universidades e outros centros de documentação”.

Turismo

“Reconhece-se que a relação folclore e turismo é uma realidade. O turismo pode atuar como divulgador do folclore e como fonte de recursos para o crescimento da economia local, o que pode significar melhoria da qualidade de vida das camadas populares. Esta relação, porém, precisa ser avaliada no sentido de resguardar os agentes da cultura popular das pressões econômicas e políticas”.

Lendas e personagens do folclore brasileiro

Conheça agora as principais lendas típicas do folclore brasileiro.

Boto

O boto é uma das lendas mais famosas do nosso folclore nacional. A estória é a seguinte: um jovem, muito charmoso e atraente costuma encantar mulheres em festas e eventos na Amazônia.

Ele leva suas conquistas para a beira do rio para namorar. Depois de engravidar sua parceira, ele foge no meio da madrugada para mergulhar no rio e voltar a ser um boto.

Capelobo

Esse personagem folclórico é também ligado a um rio, o Xingu. Nessa lenda, as águas do rio abrigam um monstro que tem o corpo de um homem, mas pedaços de bichos. Seu rosto é de uma anta ou tamanduá e seus pés, na verdade, são patas de girafa.

Durante à noite, ele deixa as águas profundas e sai em busca de alimento, que na maioria das vezes, são cabeças de animais ou sangue humano. A única maneira de eliminá-lo é com um tiro no umbigo.

Iara

Iara é uma mulher-peixe que seduz os pescadores com seus atributos físicos, mas a intenção é levar suas presas para as profundezas das águas. Quando os pescadores estão em solo firme, Iara abandona sua calda de sereia e sai andando em busca da sua caça.

Negrinho do Pastoreio

Negrinho do Pastoreio aparece de vez em quando. Sempre conduzindo muitos cavalos, enquanto conduz tudo de cima de um cavalo baio. A lenda conta que ele era um menino escravo que apanhou bastante depois de ter perdido um objeto do seu dono.

Por pura crueldade, o seu dono o deixou amarrado e sangrando muito após a punição. Porém, no outro dia, quando o seu dono chegou para ver se o negrinho estava morto. Ele estava solto, sem marcas de chicotadas.

Ao seu lado estava uma santa e muitos cavalos. Ao ver o seu algoz, o negrinho beijou a mão da Nossa Senhora e desapareceu. A partir disso, o Negrinho do Pastoreio passou a ser invocado sempre que alguém perdia algum objeto.

Diz essa lenda do folclore brasileiro que ele ajuda a encontrar o objeto perdido. Para isso, é só acender um vela e rezar um Pai Nosso pela sua alma.

Depois disso, tropeiros, mascates e carreteiros da região, todos davam notícia de ter visto passar uma tropilha de tordilhos, tocada por um negrinho montado em um cavalo baio. Então, muitos passaram a acender velas e rezar um Pai Nosso pela alma do supliciado.

Pisadeira

A Pisadeira é um personagem folclórico do sudeste do Brasil. Diz a lenda que em São Paulo e Minas Gerais, uma mulher conhecida como Pisadeira fica nos telhados das casas.

Ela espera que um morador daquela casa vá dormir, após jantar e ficar com o estômago cheio. Quando isso acontece, ela aproveita a escuridão da noite para pisar bem em cima do estômago da pessoa.

Sua aparência causa terror, pois ela tem os cabelos desgrenhados, brancos, olhos vermelhos e arregalados e unhas bem compridas. Se assemelha bastante à aparência das bruxas nos contos de fada.

Detalhe: durante o tempo em que a pisadeira fica pisando no estômago das suas vítimas, elas ficam acordadas, vendo tudo, porém paralisadas, sem condições de moverem-se.

Curupira

O curupira é uma das lendas mais antigas do Folclore Brasileiro. Seu personagem é um menino de estatura pequena cujos cabelos na cor de fogo chamam atenção. Sua principal missão é proteger a floresta e os animais.

Entre os seus atributos físicos está um interessante: seus pés são virados para trás. A ideia é enganar os caçadores e desmatadores, pois quando pensam que ele foi para o caminho oposto, ele está bem próximo. Suas pegadas confundem.

Entre seus poderes está o de fazer um encantamento nos caçadores para que eles fiquem andando em círculos presos na mata. Conta a lenda que para desfazer esse encanto, os caçadores dão um nó em uma corda e deixam a ponta escondida.

Isso acaba atraindo a atenção de Curupira que se distrai tentando achar a ponta da corda, enquanto os caçadores conseguem se afastar e fugir.

Saci Pererê

Quem não conhece o personagem negro, de uma perna só com um chapeuzinho vermelho e um cachimbo na boca?

O Saci Pererê é um dos personagens mais populares. E por conta disso, sua lenda é bastante conhecida. Com origem indígena, o saci seria um menino que perdeu uma das suas pernas em uma luta de capoeira.

O cachimbo e o gorrinho vermelho têm origem na cultura africana. O primeiro chama-se Pito e o segundo trasgo. Esse último daria poderes sobrenaturais para o Saci.

Sua maior característica é pregar “peças” nas pessoas. Fazendo-as se perderem ou escondendo coisas. Tudo isso somente para se divertir.

Mula sem cabeça

Essa lenda surgiu depois que as pessoas começaram a acreditar que uma mulher que se envolveu com um padre dentro de uma igreja teria se transformado em uma mula.

Essa transformação seria um castigo pelo comportamento pecaminoso da mulher, que além de se tornar um animal, não teria cabeça.

Em seu lugar, havia fogo. Seu outro castigo era ficar sempre galopando dentro das florestas dia e noite. O que levava muitos aventureiros a evitarem matas muito fechadas por medo de encontrar a mula sem cabeça.

Danças folclóricas brasileiras

De acordo com a Unicamp, as danças folclóricas brasileiras são “as expressões populares desenvolvidas em conjunto ou individualmente, frequentemente sem sazonalidade obrigatória. Tudo indica que é na coreografia que reside seu elemento definidor”. Confira algumas delas:

Dupla dançando frevo

O frevo é um exemplo de dança folclórica (Foto: depositphotos)

Ciranda

A ciranda folclórica tem origem no norte do Brasil, no estado do Amazonas. Ela se dança em círculo, com pessoas de mãos dadas.

Carimbó

O Carimbó é do Pará. Ele consiste em uma roda de bailarinos com solista no centro, responsável por conduzir os passos. A brincadeira tem seu auge quando uma das bailarinas conseguem cobrir um dos dançarinos com sua saia rodada.

Coco

O Coco é uma dança folclórica do Nordeste. Consiste em uma roda com fileiras de homens e mulheres. Quem canta é o tirador e os demais dançarinos respondem. Todos dominam o tropé, que é uma batida com os pés, estilo sapateado.

Existem vários tipos de melodias para o Coco, como: coco solto, quadras, embolada, coco de entrega, coco de dez pés, coco de ganzá, coco de zambê, coco de praias, coco de usina, coco de sertão, coco de roda, coco de parelhas ligadas, coco solto, coco de fila, de tropel repartido, cavalo manco, travessão, sete e meio, coco de visitas entre outras modalidades.

Veja tambémO que é lua azul, superlua e lua de sangue? [10]

Frevo

Original de Pernambuco, o frevo [11] é um ritmo da cultura popular. Sua maior característica é a coreografia acrobática e complexa, cujos movimentos passam pelas pontas dos pés até os passos nos ares, sempre acompanhados de elementos como uma sombrinha colorida e orquestra de rua.

Alguns passos do frevo são: chã-debarriguinha, saca-rolha, parafuso, tesoura, dobradiça, pontilhado, pernada, carrossel, coice-de-burro, abanando o fogareiro, caindo nas molas etc.

Quadrilha

A quadrilha é dançada principalmente nos festejos juninos. Ela nasceu na aristocracia francesa, na Europa, e hoje é uma das mais fortes expressões da cultura popular do Nordeste brasileiro.

Seus movimentos mais famosos são: tour, en avant, chez des dames, chez des Chevaliê, cestinha de flor, balancê, caminho da roça, olha a chuva, garranchê, passeio entre outros.

Siriri

Dança folclórica típica do Mato Grosso, ela acontece quando duas fileiras de homens e mulheres ladeiam músicos batendo palmas. O cantador joga um refrão e os cavalheiros fazem reverência às mulheres. Uma delas o acompanha até o meio do caminho e assim sucessivamente.

Fandango

Nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, o Fandango é uma dança folclórica. As coreografias são variadas, como: Anu, Andorinha, Chimarrita, Tonta, Cana-verde, Caranguejo, Vilão de Lenço, Xarazinho entre outros.

O ritmo é ditado por duas violas, uma rabeca e um pandeiro rústico. A dança explora várias rodas formadas por dançarinos que acompanham tudo com o bater de palmas e sapateados dos homens e arrastar dos pés das mulheres.

Com algumas variações, o Fandango também pode ser acompanhado pelo acordeão e violão que marca os passos chamados de passo de juntar, passo de marcha, de recurso, de valsa, rancheira e sapateio.

Folclore brasileiro: nossa riqueza cultura

Estudar o folclore brasileiro é crucial para entendermos mais sobre cultura popular. Logo, não deixe de conhecer mais sobre esse universo e valorize o que temos de mais importante: nossos costumes e tradições. Para isso, leia, ouça as músicas, visite os espaços culturais e propague o nosso folclore brasileiro.