A geopolítica busca compreender as relações existentes entre o poder político nacional e o espaço geográfico, tendo como finalidades a orientação da atuação governamental diante do cenário mundial, bem como a realização de análises mais precisas e aprofundadas sobre as relações internacionais e os reflexos destas no espaço geográfico.
Vários são os autores que se interessaram historicamente pelas questões geopolíticas, dando suporte teórico para os debates nesta área da geografia. O maior expoente da geopolítica é Friedrich Ratzel (1844 – 1904), o qual foi um geógrafo e etnólogo alemão. Ele é o autor do termo “Lebensraum”, traduzido para “Espaço Vital”, muito referenciado na geografia.
O principal livro de Ratzel foi publicado em 1882 sob o nome de “Antropogeografia – fundamentos da aplicação da Geografia à História”. Essa obra é considerada como a fundadora da geografia humana, pois coloca o homem no âmbito das discussões geográficas, as quais ficavam mais estritas ao conceito físico até aquele momento.
Ratzel definiu que o objeto da geografia seria o estudo da influência que as condições naturais exercem sobre os homens, tanto em seu caráter fisiológico, quanto psicológico, expandindo-se para a sociedade.
Segundo ele, a natureza atuaria nas possibilidades de expansão de um dado povo, criando obstáculos para tal, ou acelerando esse processo. Apesar de ainda estar pautado no determinismo geográfico, Ratzel traz o homem para as discussões geográficas, privilegiando o elemento humano.
Com base nas contribuições de Ratzel, houve uma valorização das questões referentes à história e ao espaço. Com isso, abre-se espaço para discussões como a formação dos territórios, a expansão dos homens no globo, a distribuição dos povos no mundo, a questão do isolamento e das áreas habitadas.
Assim, além de ser considerado como base da geografia humana, Ratzel é destaque como precursor da geopolítica e do determinismo geográfico. A geopolítica sob base de Ratzel é o estudo da dominação dos territórios, especialmente em relação ao poder do Estado sobre o espaço.
Vários autores posteriores foram importantes nos referidos estudos, como Kjellen, Mackinder e Haushofen, embasando a área que viria a ser chamada de geopolítica.
Os principais autores desse campo de estudo (Kjellén, Mahan, Mackinder, Haushofer, dentre outros) concordam em algumas questões acerca das discussões que importam sobre o poder e o espaço.
Ambos enfatizam em suas obras a questão do poderio militar, bem como o papel das guerras na reorganização do espaço, debatendo o papel das grandes potências no cenário mundial.
Todos os autores demonstraram em suas obras uma preocupação em especial com o Estado nacional no qual viviam, bem como a expansão e fortalecimento deste, o que também ocorreu com Ratzel (Alemanha).
Os autores também têm como base de análise a criação de ideias estratégias e pragmáticas que nem sempre colocam o Estado como sujeito, bem como uma visão estratégia do poder, de modo que a geopolítica não está separada da geoestratégia.
O conhecimento do espaço é uma poderosa arma de dominação, de modo que quando um povo conhece seu território, adquire vantagens em um conflito.
O estudo da questão geopolítica mundial tem como elemento central a compreensão de que tudo o que acontece no espaço geográfico acaba por interferir, positivamente ou negativamente, na forma como este espaço é organizado.
Neste sentido, a preocupação está em analisar as relações de poder que são estabelecidas entre os Estados e os territórios existentes no mundo.
O cenário geopolítico mundial é marcado por vários eventos importantes, que reorganizam as relações sociais e a forma como o espaço está concebido, como as relações de poder, os conflitos armados por variados motivos e as disputas por territórios, as ações de grupos de poder paralelo ao Estado, como os grupos terroristas [2], as tensões diplomáticas entre os Estados, dentre muitos outros.
Existem grandes eventos da história da humanidade e que possuem uma base de análise geopolítica, pois envolvem as relações de poder e a organização do espaço geográfico. Algumas delas são a Primeira Guerra Mundial [3] (1914-1918), a Segunda Guerra Mundial (1939-1946) e ainda a Guerra Fria (1947-1991).
O mundo se organiza segundo características do desenvolvimento dos países existentes, de modo que já se esteve sob a égide de um mundo unilateral, ou unilateralismo. Neste caso, quando os Estados Unidos detinham o poder decisório concentrado.
No entanto, posteriormente, no contexto da Guerra Fria, o poder mundial estava embasado em uma lógica bilateral [4], disputado pelos Estados Unidos (capitalista) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (socialista).
Mas, no contexto da globalização [5], houve uma descentralização deste poder, instaurando-se o chamado mundo multilateral, quando emergem várias potências. Estes são alguns dos temas que possuem uma base de estudos geopolítica e que cabem a esta área da geografia especificamente.
A geografia, sendo uma ciência que tem como base a compreensão das relações entre o homem e o espaço, tem profunda preocupação com as questões geopolíticas, de modo que estas abarcam transformações importantes no cenário mundial, as quais se refletem nas demais escalas geográficas.
MORAES, Antonio Carlos Robert. “Geografia: pequena história crítica“. 21 ed. São Paulo: Annablume, 2007.
MOREIRA, Ruy. “O que é Geografia“. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 2012.