Geografia

Maré vermelha – Como se dá esse fenômeno?

O fenômeno da Maré Vermelha é um acontecimento natural que ocorre pela presença de algas microscópicas nas águas, e que acabam conferindo uma coloração diferenciada às águas, as quais podem variar de tons avermelhados, até uma cor marrom, laranja, roxa e até amarelada. O fenômeno em questão é denominado de “floração de algas nocivas”, e a presença destas pode ocasionar problemas ao meio ambiente e mesmo à saúde humana.

O que é o fenômeno da Maré Vermelha?

A Maré Vermelha é um fenômeno natural ocasionado pela presença e proliferação de alguns tipos de algas tóxicas que se deslocam das partes menos superficiais dos mares e sobem à superfície, ocasionando manchas de coloração em tons avermelhados no mar, as quais podem ser visualizadas em várias partes do mundo.

As algas em questão sobem para a superfície por motivos variados, como as mudanças de temperatura nas águas dos mares, a alteração dos níveis de salinidade presentes nas águas, bem como o despejo de esgoto e despejos diversos nas águas do mar. Com base nestes fatores, as algas crescem rapidamente, deslocando-se para a superfície.

Maré Vermelha é um fenômeno natural ocasionado pela presença e proliferação de alguns tipos de algas tóxicas

As manchas também podem ser marrom, laranja ou amareladas (Foto: Reprodução/Wikimedia Commons)

A quantidade de algas e, consequentemente de toxinas presentes no plâncton, ou seja, nos conjuntos dos organismos vivos presentes nas águas do mar, variam em conformidade com o período do ano, alcançando níveis de toxicidade mais elevados nos períodos em que há a proliferação intensa e acelerada de microalgas que sintetizam as biotoxinas existentes nas águas. Quando isso ocorre, a concentração das algas promove uma coloração nas águas, a qual pode variar de acordo com o tipo e quantidade de algas presentes. Neste processo, os dinoflagelados podem ser vistos pelas pessoas, formando o chamado fenômeno da “Maré Vermelha”.

Qual o tipo de alga que causa a Maré Vermelha?

Não existe um único tipo de alga que ocasiona o fenômeno da Maré Vermelha, mas as mais comuns são as pertencentes ao grupo dos chamados dinoflagelados, sendo que estes são protozoários marinhos que possuem uma morfologia e um tipo de nutrição considerados complexos. A imagem abaixo demonstra alguns tipos de dinoflagelados existentes:

O tipo de dinoflagelado principal que ocasiona o fenômeno da Maré Vermelha é o Gonyaulax Catenella

A alga é extremamente tóxica e ocasiona paralisia por envenenamento (Imagem: Reprodução/The MacGraw-Hill

O tipo de dinoflagelado principal que ocasiona o fenômeno da Maré Vermelha é o Gonyaulax Catenella, sendo que este tipo de alga é extremamente tóxica, a qual produz uma substância denominada de saxitoxina, a qual quando consumida ocasiona uma paralisia por envenenamento, conhecida na literatura como Paralytic Shellfish Poisoning (PSP). As algas do tipo Gonyaulax Catenella são unicelulares e possuem dois flagelos, os quais são utilizados para sua locomoção.

Estima-se que esse tipo de alga, através da produção da saxitoxina, desenvolva um efeito anestésico de cerca de 100.000 vezes maior poder do que o uso da cocaína. Por ser bastante comum nas áreas da costa Oceano Pacífico, na região da América do Norte, são também comuns os casos de envenenamento de animais marinhos e, quando consumidos pelos seres humanos, ocasionam uma mortalidade por conta das toxinas.           

Consequências da Maré Vermelha

A presença das algas que ocasionam a Maré Vermelha é considerada como um problema ambiental, por conta dos elevados índices de toxinas presentes nas algas e que contaminam as águas dos mares.

Com as águas contaminadas pelos agentes tóxicos, há um envenenamento dos animais aquáticos, ocasionando altos índices de mortalidade destes seres vivos. Daqueles que não morrem, muitos ficam contaminados e desenvolvem problemas variados. Com a presença massiva das algas nas águas do mar, ocorre um impedimento dos raios solares de atingirem os pontos mais profundos dos mares, pois não conseguem passar pela superfície.

Efeito na vida marinha

Esse acontecimento impede uma adequada fotossíntese, por conta da redução do oxigênio nas águas. Isso pode também levar a mortalidade de animais ou redução das espécies. A ocorrência da Maré Vermelha no Chile e sua consequências, no ano de 2016, originou vários problemas no país, dentre eles protestos de pescadores que ficaram desempregados.

Comprometimento do turismo

No mesmo sentido, quando o fenômeno da Maré Vermelha está presente, há um comprometimento das atividades turísticas. Nestes períodos, as pessoas não podem se banhar nas águas por conta da contaminação pelas algas. A redução do turismo gera efeitos negativos nas economias que vivem deste tipo de atividade, como as regiões costeiras. Os pescadores, que sobrevivem das atividades nas águas, também são impactados pela presença da Maré Vermelha, por conta da contaminação dos animais marinhos, e impossibilidade de consumo destes.

Problemas de saúde

A presença da Maré Vermelha pode ocasionar sérios problemas à saúde humana, sendo que quando são consumidas coisas contaminadas podem ser gerados vários problemas, os quais vão desde uma dormência na boca, até perturbações gastrintestinais, por conta das toxinas presentes. Em casos mais graves, com envenenamento, pode ocorrer o óbito das pessoas que consomem algo que esteja contaminado pelas toxinas que se originam nas Marés Vermelhas.

A situação toma proporções alarmantes quando os peixes, por exemplo, estão contaminados com um tipo específico de elemento denominado de Toxinas Paralisantes ou Paralytic Shellfish Poisoning (PSP), condição que leva facilmente ao óbito.

Medidas para evitar a contaminação com as toxinas da Maré Vermelha

Segundo informações do Dr. Edison Barbieri, especialista em Biologia Marinha, algumas medidas podem ser tomadas para que seja evitada uma contaminação com as toxinas produzidas durante os períodos da Maré Vermelha. São elas, evitar o consumo de frutos do mar em locais onde haja uma concentração ou proliferação de algas.

As mudanças climáticas estão alterando a química dos oceanos [6]

Infelizmente, por vezes, pode haver uma contaminação sem que o consumidor saiba que o pescado está contaminado. Ainda, não utilizar barbatanas ou frutos do mar que tenham sido utilizados como iscas. Segundo o Dr. Edison Barbieri, pessoas imunodeprimidas, em geral, devem evitar o consumo de frutos do mar, ou seja, aquelas pessoas que não possuem um bom sistema imunológico, ou que estejam adoecidas, não devem consumir esse tipo de alimento.

As toxinas marinhas produzidas pelo fenômeno da proliferação das algas não são destruídas com o calor, portanto, medidas de prevenção aos acidentes de envenenamento devem ser tomadas, como monitoramento das áreas e do crescimento dos dinoflagelados.

Ainda, atividades turísticas e de pesca devem ser proibidas no contexto da existência de algas em excesso nas águas do mar. É papel da vigilância sanitária o cuidado com estas áreas e a emissão de alertas da existência da Maré Vermelha, enquanto a vigilância epidemiológica deve promover a investigação de supostos casos, identificando a causa dos ocorridos. As pessoas afetadas pelas toxinas da Maré Vermelha precisam de cuidados de saúde para evitar maiores danos.

 

Referências

» BARBIERI, Edison. O perigo das biotoxinas marinhas. 2009. São Paulo. Disponível: <ftp://ftp.sp.gov.br/ftppesca/texto_tecnico_Barbieri.pdf>. Acesso em 19 jul. 2017.

» RED Tides and Toxins. The Seaweed Site: information on marine algae. Disponível em: < http://www.seaweed.ie/algae/redtides.php>. Acesso em 19 jul. 2017.