Mesmo antes da chegada dos europeus para a colonização das Américas (aliás, que também não passou de uma migração), já havia um dinâmico fluxo migratório no que hoje denotamos como o território nacional brasileiro, mas estendendo ao espaço continental americano entre os povos indígenas, possibilitando trocas culturais, material e econômicas entres as civilizações pré-colombianas e tribos indígenas.
Após o século XVI, o território hoje compreendido pelo Brasil, passa a receber imigrantes portugueses (em toda faixa litorânea do Sudeste ao Norte) e espanhóis (ao Sul e Oeste) no sentido de explorar e colonizar o continente. Além destes, há uma migração francesa, no sentido de disputar territórios com as nações ibéricas (Portugal e Espanha) no Sudeste brasileiro e no Norte (Amapá). Ainda, no período colonial há migração holandesa no Nordeste, disputando a região com os portugueses.
Em todo período de colonização, por parte dos europeus, do território brasileiro, são realizadas as “migrações forçadas”, de negros oriundos de várias partes do continente africano e de indígenas do interior do continente sul-americano como mão de obra escrava, no âmbito do desenvolvimento colonial.
Após a independência, o Brasil passou por um intenso processo de imigração entre os anos de 1850 até 1934, quando o Estado brasileiro incentivava a vinda de imigrantes ao Brasil para trabalharem nas lavouras cafeeiras. Esse período teve como ponto central o fim da escravidão de africanos, o que gerou uma necessidade maior de mão-de-obra nas lavouras brasileiras. Muitos países estavam desestabilizados com o contexto da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e não haviam empregos suficientes para toda população. Mesmo com a reestruturação após a guerra, começava também um processo de industrialização e urbanização, o que expulsou do campo muitas pessoas, que vieram para o Brasil para continuar trabalhando no campo.
Um segundo momento importante em relação às migrações no Brasil, foram as migrações internas, também chamadas de inter-regionais. Estas já vinham acontecendo durante toda história do Brasil, mas tiveram uma intensificação expressiva após 1934, quando há também registros de queda nas imigrações. Naquele contexto, a indústria paulista já possuía prestígio e se tornava um atrativo para pessoas de outras regiões do Brasil, principalmente nordestinos, que buscavam melhores condições de vida nos grandes centros.
No mesmo sentido, destacam-se também no Brasil as migrações rural-urbano, também chamadas de êxodo rural, as quais aceleraram-se após a década de 1950, com a crescente modernização do campo, industrialização e urbanização brasileira. Vários fatores influenciam este tipo de migração, como o crescimento demográfico maior do que as áreas cultiváveis, o que ocorre tanto pela diminuição das áreas físicas disponíveis, quanto pela monopolização das terras (formação de latifúndios).
Também desde a década de 1950 vem se destacando no Brasil as migrações pendulares, as quais são caracterizadas como o movimento diário de pessoas nos grandes centros urbanos. Ou seja, é o movimento dos trabalhadores ou estudantes para que possam trabalhar ou estudar em outros municípios. Esse tipo de migração é mais comum de municípios menores, com menos infraestrutura e serviços, para municípios maiores, onde a oferta de serviços e as oportunidades de trabalho são maiores.
Diante dos conflitos mundiais mais recentes, bem como das catástrofes naturais que assolaram alguns países ao redor do mundo, os fenômenos migratórios têm se intensificado na atualidade. As migrações são movidas por elementos de repulsão e elementos de atração. Nos casos mais recentes, como dos Sírios, os conflitos violentos têm sido caracterizados como fenômenos de repulsão das pessoas na Síria. Do mesmo modo, entende-se que o terremoto que atingiu o Haiti em 2010, foi um forte fator de repulsão da população local.
Atrelado à isso, existem fatores de atração, ou seja, elementos que atraem os imigrantes. Exemplos disso são melhores condições de vida, ofertas de emprego, segurança contra conflitos internos, guerras civis e governos ditatoriais. As oportunidades de uma vida mais digna têm atraído pessoas para países como o Brasil, que constitui-se enquanto um país emergente. No Brasil, principalmente os frigoríficos de abate de aves na região Sul do país têm tido boa parte de suas vagas de emprego ocupadas por imigrantes.
Há uma diferença grande entre o imigrante que migra por questões econômicas e aquele que migra forçadamente. Muitas pessoas sofrem perseguições políticas, religiosas e culturais e são vítimas de violências diversas. Estas pessoas são amparadas por legislações específicas, e caracterizadas como refugiados. Elas são amparadas em outros países e não podem ser encaminhadas forçadamente de volta para seus países de origem. Basicamente, são consideradas pessoas que precisam de proteção.
O Brasil é hoje um país que recebe uma significativa parcela de imigrantes, mas também são importantes os índices de emigração no caso brasileiro, embora não mais tão expressivos como nas décadas de 1980 e 1990. O que acontecem neste período foi muito semelhante ao que acontece no Brasil hoje. Os Estados Unidos eram o principal alvo dos brasileiros, onde haviam empregos que exigiam baixa qualificação e nos quais os estadunidenses já não tinham mais interesse. Hoje verifica-se fenômeno parecido no Brasil, especialmente com o uso de mão de obra estrangeira nos frigoríficos. Canadá, Japão e Paraguai também foram países para os quais muitos brasileiros migraram.
Apesar da expressividade das migrações internacionais, no Brasil os fenômenos migratórios internos, dentro de uma mesma região, ou interestaduais são bastante comuns. Estes geralmente são motivados por fatores econômicos, ou seja, uma busca pela melhoria das condições de vida. Destacam-se ainda as migrações de retorno, as quais ocorrem quando os indivíduos voltam para seus locais de origem, seja pela saudade dos familiares ou por não adaptação no novo local de moradia, ou ainda, pela melhoria das condições no local em que habitavam anteriormente.
A tela “Os retirantes” de 1944, pintada por Cândido Portinari, demonstra uma realidade social relacionada com o fenômeno migratório. Os personagens da tela são migrantes, com pouca bagagem, indo para um lugar incerto. Provavelmente tenham sido “obrigados” a deixar sua terra por conta das condições de vida precárias. Essa foi (e ainda é) a realidade de muitos migrantes, forçados pelas circunstâncias a abandonar o lugar onde construíram suas vidas. Abaixo segue reprodução da referida tela:
»PATARRA, Neide Lopes. Migrações Internacionais de e para o brasil contemporâneo: volumes, fluxos, significados e políticas, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/spp/v19n3/v19n3a02.pdf>. Acesso em: 17 de abril de 2017.
»TEIXEIRA, Paulo Eduardo; BRAGA, Antonio Mendes da Costa; BAENINGER, Rosana (Orgs). Migrações: implicações passadas, presentes e futuras, 2012. Disponível em: < https://www.marilia.unesp.br/Home/Publicacoes/migracoes2_ebook.pdf>. Acesso em: 17 de abril de 2017.
»VESENTINI, José William. Geografia: o mundo em transição. São Paulo: Ática, 2011.