Alguns mamíferos [7] herbívoros, principalmente ruminantes, abrigam em seu tubo digestório bactérias que produzem celulase, enzima que digere celulose, transformando-a em carboidratos aproveitáveis: as bactérias utilizam uma parte e o animal utiliza outra. Esse é mais um dos exemplos de mutualismo.
Outro caso é o de protozoários que também produzem células e vivem no tubo digestório de cupins, recebendo alimento já particulado ingerido por esses insetos. Isso possibilita aos cupins o aproveitamento dos nutrientes provenientes da digestão da madeira. Esses protozoários dependem dessa associação, pois só sobrevivem no corpo dos cupins.
Outros exemplos de mutualismo são as micorrizas, associações entre fungos e raízes de plantas, e as bacteriorrizas, associações entre bactérias fixadoras de nitrogênio e raízes de plantas.
Nas micorrizas, os fungos contribuem com a absorção de nutrientes minerais do solo, beneficiando as plantas, enquanto estas fornecem nutrientes orgânicos aos fungos [8]. Nas bacteriorrizas, as bactérias fixam o nitrogênio do ar que está entre as partículas do solo e passam para a planta, que fornece proteção e energia às bactérias.
As interações interespecíficas podem ser: harmônicas, como o mutualismo, protocooperação, inquilinismo e comensalismo; ou desarmônicas, a exemplo do amensalismo (ou antibiose), predatismo, parasitismo e competição interespecífica.
Nas interações ecológicas interespecíficas, costuma-se utilizar sinais para representar o efeito dessa relação sobre as populações envolvidas. O sinal + é usado quando a população cresce; o sinal –, quando a população diminui; e o sinal 0, quando não há crescimento nem redução da população. Assim temos:
Na protocooperação, embora os participantes se beneficiem, eles podem viver de modo independente, sem a necessidade de se unir. No mutualismo, a união é obrigatória, e os indivíduos são interdependentes.
Um dos mais conhecidos exemplos de protocooperação é a associação entre a anêmona-do-mar e o paguro, um crustáceo semelhante ao caranguejo, também conhecido como bernardo-eremita ou ermitão.
O paguro tem o abdômen mole e costuma ocupar o interior de conchas abandonadas de gastrópodes. Costuma colocar sobre a concha uma ou mais anêmonas-do-mar. Dessa união, surge o benefício mútuo: a anêmona têm células urticantes, que afugentam os predadores, e o paguro, ao se deslocar, possibilita que a anêmona explore melhor o espaço em busca de alimento.
Um exemplo muito comum de protocooperação pode ser observado nas pastagens brasileiras: aves que pousam sobre bois e vacas para se alimentar de carrapatos. As aves encontram alimento, e os bois livram-se dos carrapatos que os parasitam (ectoparasitas).
Outro exemplo de protocooperação é o caso de insetos e pássaros polinizadores. Eles obtêm das plantas o néctar que lhes servem de alimento, ao mesmo tempo em que transportam o pólen de uma flor para a outra, contribuindo involuntariamente para a polinização das plantas.
Nesses dois tipos de associação apenas um dos participantes se beneficia, sem, no entanto, causar prejuízo ao outro. No comensalismo, a associação ocorre em função da obtenção de alimento. No comensalismo a espécie beneficiada recebe o nome de comensal e alimenta-se dos restos deixados pela espécie hospedeira.
Um exemplo de comensalismo é a associação do tubarão [10] com o peixe-piloto. Os peixes-pilotos (chamados comensais) vivem ao redor do tubarão, alimentando-se dos restos de comida que escapam da boca desse predador.
No inquilinismo, a associação ocorre frequentemente por proteção, abrigo ou suporte físico. Um exemplo de inquilinismo envolve o fieráster, um pequeno peixe que vive como um inquilino dentro do corpo do pepino-do-mar para se alimentar e depois volta.
Nesse caso de inquilinismo, o peixe encontra proteção no corpo do pepino-domar, o qual, por sua vez, não recebe benefício nem sofre desvantagem. Entre os vegetais temos as epífitas (orquídeas e bromélias), que se fixam sobre as árvores sem contudo causar-lhes nenhum prejuízo.
O termo simbiose, criado em 1879 pelo biólogo De Bary, tem sido equivocadamente utilizado como sinônimo de mutualismo. Simbiose refere-se originalmente a toda e qualquer associação estável entre indivíduos de espécies diferentes, seja interação positiva ou negativa.
Assim, poderíamos considerar três tipos bem definidos de simbiose: o parasitismo, o comensalismo e o mutualismo.
Atualmente, porém, a utilização do termo simbiose tem sido ampliada, aplicando-se a qualquer tipo de relação interespecífica. A classificação das interações ecológicas pode variar muito. Em algumas, o comensalismo inclui o inquilinismo, que deixa de ser uma das categorias.
Com o mutualismo e a protocooperação acontece algo semelhante: o mutualismo pode incluir a protocooperação, que deixa de ser uma categoria válida. Além disso, há casos em que os limites entre uma categoria e outra não são muito nítidos, e há tipos de interações que não se encaixam bem em nenhuma categoria.
GUEDES, Maria Helena. “Simbiose“. Clube de Autores (managed).
PINTO-COELHO, Ricardo Motta. “Fundamentos em ecologia“. Artmed Editora, 2009.