Nomadismo

Existem vários tipos de sociedades em todo mundo e que se desenvolveram em diversos momentos históricos. De modo geral, as sociedades podem ser divididas genericamente em sociedades nômades, sociedades agrícolas tradicionais e sociedades capitalistas.

Estas três caracterizações não necessariamente seguem uma ordem de evolução, pois ainda hoje existem sociedades organizadas a partir de práticas de nomadismo e em preceitos agrícolas tradicionais. Os agrupamentos humanos podem ser divididos também entre povos nômades e povos sedentários.

Caçadores e Coletores: as primeiras sociedades

As sociedades nômades de maior expressividade, também definidas como sociedades de caçadores e coletores, existiram há 50.000 anos antes do tempo presente, e hoje encontram-se bastante limitadas.

Estas sociedades tinham como características básicas os agrupamentos humanos sem grande expressividade quantitativa, e cujas pessoas viviam a partir de atividades como caça, pesca e coleta de plantas para sua subsistência. Além disso, eram sociedades onde não havia expressividade em relação às desigualdades sociais, pois elas não acumulavam coisas, mas obtinham apenas aquilo que consideravam necessitar para sua sobrevivência.

No âmbito das sociedades caçadoras e coletoras, as classes eram divididas em conformidade com as idades e gêneros dos indivíduos.

As sociedades caçadoras e coletoras ainda existem em algumas partes do mundo, mas encontram-se praticamente em processo de extinção, pois as sociedades têm se tornado cada vez mais sedentárias, ou seja, acomodadas em um local fixo.

Nas porções mais áridas (desertos) da África ainda existem populações que sobrevivem desta forma, bem como na Nova Guiné e mesmo no Brasil, no interior da floresta amazônica principalmente, onde agrupamentos indígenas sobrevivem a partir da caça e da pesca, bem como da coleta de plantas comestíveis.

Estes povos, caçadores e coletores, não acumulam bens materiais para além daquilo que necessitam para sobreviver, sendo que seus artefatos materiais se baseiam em armamentos necessários para caçar animais para alimentação, instrumentos rudimentares para cavar e construir seus abrigos, instrumentos e materiais para fabricação de armadilhas e ainda os utensílios necessários para produzir seu alimento.

Os povos nômades não criavam animais e nem plantavam aquilo que consumiam

Ainda existem populações que sobrevivem desta forma (Foto: depositphotos)

Estas sociedades não apresentam desigualdades sociais baseadas em acúmulo de bens materiais, mas dividem-se segundo o gênero principalmente, sendo que mulheres e homens possuem funções bem definidas para manutenção deste modelo social.

Os homens quase sempre desenvolvem atividades de caça, se deslocando para encontrar os animais que servirão de alimentação. As mulheres possuem a responsabilidade da coleta das plantas, além disso, preparam os alimentos e cuidam dos filhos.

Esse tipo de sociedade começa a se dissipar quando os homens percebem que podem criar os animais em seus domínios espaciais, sem necessariamente sair para caçá-los. Assim, começam a domesticar os animais, cercando-os em suas proximidades e abatendo-os quando necessário. O mesmo ocorre com as plantas, as quais são plantadas nas proximidades dos abrigos, tornando a vida destes povos mais sedentária.

Começam a se estabelecer as sociedades pastoris, com a criação de gado doméstico e as sociedades agrárias, que cultivam plantações.

Nomadismo: um modo de vida

O nomadismo é uma contraposição ao modo de vida sedentário. Hoje a ampla maioria das sociedades possui características de sedentarismo, ou seja, não necessitam praticar atividades como caça, pesca e coleta para sua sobrevivência.

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Com o advento da internet, considera-se que as sociedades têm se tornado ainda mais sedentárias, pois não necessitam mais, obrigatoriamente, sair de suas residências para comprar nem mesmo sua alimentação. Os deslocamentos ocorrem por questões específicas, mas em geral as pessoas possuem residências fixas, bem como compram seus alimentos e utensílios em lojas especializadas e sem grandes esforços.

Ou seja, o sedentarismo é um estilo de vida que não necessita de intensos esforços físicos para que os elementos necessários à vida sejam obtidos, pois tudo está relativamente próximo e acessível ao indivíduo.

O nomadismo foi uma prática muito comum no âmbito da sociedade dos caçadores e coletores, os quais precisavam se deslocar para conseguir os elementos necessários à sua sobrevivência. Os povos nômades não criavam animais e nem plantavam aquilo que consumiam. Estes povos precisavam se deslocar para obter aquilo de que necessitavam, e quando os recursos escasseavam em um dado local, mudavam para outros ambientes nos quais havia maior abundância.

Nomadismo é comum em regiões desérticas

Essa prática foi bastante comum na história da evolução da humanidade, especialmente antes do estabelecimento das atividades agropastoris. No entanto, ainda são comuns práticas de nomadismo, principalmente em regiões do globo nas quais o ambiente apresenta condições extremas para o desenvolvimento de plantas e criação de animais.

Assim, regiões desérticas, sejam elas de desertos gelados ou quentes, costumam ser ambientes nos quais o nomadismo ainda é necessário. O nomadismo é uma necessidade de sobrevivência e, justamente por isso continua sendo uma prática comum no âmbito de alguns agrupamentos humanos.

Um exemplo de nomadismo: os povos Fulani

Os povos Fulani são o maior agrupamento nômade da atualidade, os quais possuem como base uma visão animista do mundo, ou seja, acreditam que tudo o que existe tem uma alma ou espírito. Os Fulani estendem seu deslocamento pelos territórios de Mali, Nigéria, Mauritânia, Sudão e Gâmbia, na África Ocidental.

São falados cerca de cinco idiomas no âmbito do agrupamento, com uma profunda miscigenação cultural e religiosa, embora boa parte siga os preceitos do islamismo. Os Fulani praticam atividades de comerciantes e pastores nômades, tendo estabelecido historicamente rotas comerciais pela África.

Os povos Fulani são o maior agrupamento nômade da atualidade

Esse grupamento possui profunda miscigenação cultural e religiosa (Foto: Reprodução/Wikimedia Commons)

Questão ambiental relacionada ao nomadismo

O nomadismo é uma prática que também produz danos ambientais, pelo excessivo uso das terras nos locais nos quais os agrupamentos estão temporariamente estabelecidos.

O que ocorre é um estabelecimento em um dado local para usufruir dos elementos da natureza para sobrevivência, como a existência de peixes e animais para caça. Quando estes elementos se tornam escassos, os agrupamentos se deslocam para novos locais, visando sua subsistência.

A vantagem ambiental das práticas nômades é que com o deslocamento, os agrupamentos humanos nômades fornecem ao meio ambiente um tempo de regeneração, no qual a natureza se reequilibra. Isso não ocorre nas sociedades sedentárias, pois não há um deslocamento, mas sim uma exploração intensificada e constante dos recursos do meio ambiente.

 

Referências

» GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6 ed. Porto Alegre: Penso, 2012.

Sobre o autor

Mestre em Geografia e Graduada em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Especialista em Neuropedagogia pela Faculdade Alfa de Umuarama (FAU) e em Educação Profissional e Tecnológica (São Braz).