Em alguns dos locais ocupados, seções eleitorais vão funcionar neste domingo (30), no segundo turno das eleições municipais. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não tem um balanço sobre colégios onde haverá seções eleitorais e que estão ocupados. Segundo o TSE, cabe a cada Tribunal Regional Eleitoral (TRE) tomar as devidas providências para que a votação seja realizada.
O TRE do Paraná, por exemplo, decidiu mudar [12] os locais de votação de todos os eleitores que votam em escolas estaduais, ocupadas ou não. Ao todo, 205 locais de votação (146 em Curitiba, 32 em Maringá e 27 em Ponta Grossa) mudarão de lugar.
Ontem (24), um dos participantes de uma das instituições ocupadas no Paraná, o Colégio Estadual Santa Felicidade, em Curitiba, foi encontrado morto dentro da escola [13]. Com apenas 16 anos, o estudante foi morto por um colega, também menor. De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná, ambos teriam usado drogas e o adolescente teria atacado o colega para se defender. O grave acontecimento fez com que os governos estadual e federal insistissem na desocupação dos locais.
Mais duas unidades do Colégio Pedro II, tradicional escola federal do Rio de Janeiro, foram ocupadas hoje por estudantes. Após a unidade de Realengo e Engenho Novo, ocupada na semana passada, eles as de São Cristóvão, na zona norte, e de Niterói, na região metropolitana.
Os irmãos Taygoara Cotta, de 16 anos, e Kauã Cotta, de 14, que estudam na unidade de São Cristóvão, disseram que vão pernoitar na escola. “Acredito que, se todos lutarmos e pressionarmos, conseguiremos mudar. São mais de 1,2 mil instituições no Brasil ocupadas e, com essa força, é possível que o Congresso volte atrás”, disse o rapaz. Ele informou que os alunos devem fazer nova assembleia dentro de 48 horas para decidir os rumos do movimento.
Professora da escola do município e mãe de Taygoara e Kauã, Vera Lúcia Pereira, de 52 anos, afirma que os pais estão apoiando os alunos. “É um protesto legítimo. Estamos dando apoio técnico. Alguns pais vão dormir no local com eles, mas o colégio já garantiu a segurança.”
Os alunos promoveram atividades esportivas, como futebol e vôlei, sessão de cinema, jogos de mesa, roda de dança de matrizes africanas. Em Realengo, zona oeste da capital, eles tiveram aulão de física nesta manhã como preparação para o Enem. “Não queremos prejudicar ninguém. Tanto que a reitoria, embora não apoie, entende a nossa luta e mantém uma boa relação conosco. O que não dá é ficar inerte frente a essa ondas de medidas como PEC 241, Projeto de Lei Escola Sem Partido”, disse uma estudante, que não quis se identificar.
De acordo com a diretora de ensino do Colégio Pedro II de Realengo, Eliana Myra, a escola funcionará normalmente como local de votação no domingo. “Ontem um juiz [eleitoral] conversou com os alunos, e uma parte do colégio foi reservada para o processo eleitoral. Eles não desocuparão, mas também não atrapalharão nada no domingo.”
O reitor do Colégio Pedro II, Oscar Halac, informou, em nota, que a permanência de menores e adolescentes nas dependências da escola fora do turno de funcionamento implica transgressão a artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente. “Esclareço, ainda, que a autorização para menores e adolescentes pernoitarem em espaços públicos só tem validade com autorização expressa do Juizado de Menores”.
Em outra nota oficial, o reitor garantiu que a votação do dia 30 e a prova do Enem não serão prejudicadas, sobretudo, porque os estudantes querem participar de ambos os processos. “Tranquilizem-se todos. Não será necessária força coercitiva para retirá-los. Mesmo porque eu não agiria assim contra o maior capital intelectual deste município que é o estudante do Colégio Pedro II. E, no dia seguinte do uso da força, como olhá-los nos olhos? São nossos alunos. São seus filhos”, diz a nota divulgada pelo reitor.
No fim da tarde, os servidores do Colégio Pedro II, reunidos em assembleia, decidiram entrar em greve por tempo indeterminado a partir de sexta-feira (28). De acordo com o sindicato da categoria (Sindscope), a greve foi aprovada “por imensa maioria” e é contra a PEC 241 e “reformas que retiram direitos”. “Os servidores também se solidarizaram com estudantes que iniciaram movimento de ocupação dos campi do CPII em defesa da educação pública e contra a PEC 241, a MP do ensino médio e a tentativa dos projetos ‘Escola Sem Partido’ de proibir o debate e a diversidade de ideias na escola”, informa a nota publicada na página do sindicato no Facebook.
As unidades do Instituto Federal de Educação do Rio de Janeiro de Nilópolis, Duque de Caxias e São Gonçalo também estão ocupadas.
Em São Paulo, alunos ocuparam uma escola estadual na zona norte da capital. O grupo entrou na Escola Estadual Silvio Xavier, no Piqueri, na noite de ontem (24). Pelas redes sociais, os estudantes disseram ter paralisado as atividades em uma escola em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, e outra em Campinas, no interior paulista.
A Secretaria Estadual de Educação foi procurada pela reportagem da Agência Brasil, mas ainda não se manifestou sobre as ocupações.
*Da Agência Brasil
Com adaptações