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Poesia práxis

Nascida em 1962, a poesia práxis foi um movimento que surgiu a partir da dissidência de um grupo de poetas que compunham o Concretismo. Sendo assim, a poesia práxis surgiu como uma ruptura aos moldes do Concretismo, tais como o formalismo e o culto pela forma propriamente dita, representado pela palavra-objeto que seria a palavra de ordem. O marco de fundação deste movimento foi a publicação do livro “Lavra-lavra”, de Mário Chamie, e o primeiro documento teórico de sua instauração foi o intitulado “Manifesto Didático”.

Poesia práxis

Foto: Reprodução

As características da poesia práxis

Em contraposição ao formalismo concretista, a poesia práxis é considerada como uma matéria-prima capaz de ser transformada, possuindo um aspecto dinâmico. Se, no Concretismo, a “palavra-coisa” era a mais exaltada, na poesia práxis tem-se a “palavra-energia”, com a valorização da palavra em seu contexto extralinguístico, mantendo uma forte ligação com a realidade social. Esta modalidade não se caracteriza como algo fechado, muito pelo contrário, permite a interferência do leitor com a abertura para múltiplas interpretações. Na poesia concreta, a forma de expressão era a comunicação através do visual; a poesia práxis surge revalorizando o ritmo, a palavra e o verso.

Principais representantes

A poesia práxis foi bem representada por Mário Chamie e Cassiano Ricardo, que valorizavam muito mais o conteúdo do que a forma em si.

Além deles, podemos destacar os seguintes autores e suas respectivas obras:

  • Armando Freitas Filho – Palavra (1963);
  • Mauro Gama – Corpo Verbal (1964);
  • Antonio Carlos Cabral – Diadiário cotidiano (1964);
  • Ivone Geanetti Fonseca – A fala e a forma (1964);
  • Camargo Méier – Cartilha (1964).

Como exemplo de poesia práxis, veja a seguir uma criação de Cassiano Ricardo:

Os nomes dados a terra descoberta

Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome
de ilha de Vera-Cruz.
      Ilha cheia de graça
      Ilha cheia de pássaros
      Ilha cheia de luz.
      Ilha verde onde havia
      mulheres morenas e nuas
      anhangás a sonhar com histórias de luas
      e cantos bárbaros de pajés em poracés batendo os pés.
Depois mudaram-lhe o nome
      pra terra de Santa Cruz.
      Terra cheia de graça
      Terra cheia de pássaros
      Terra cheia de luz.
A grande terra girassol onde havia guerreiros de tanga e
onças ruivas deitadas à sombra das árvores
mosqueadas de sol
Mas como houvesse em abundância,
certa madeira cor de sangue, cor de brasa
e como o fogo da manhã selvagem
fosse um brasido no carvão noturno da paisagem,
e como a Terra fosse de árvores vermelhas
e se houvesse mostrado assaz gentil,
       deram-lhe o nome de Brasil.
       Brasil cheio de graça
       Brasil cheio de pássaros
       Brasil cheio de luz.   

Sobre o autor

Formada em Letras (Licenciatura em Língua Portuguesa e suas Literaturas) pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), com certificado DELE (Diploma de Español como Lengua Extranjera), outorgado pelo Instituto Cervantes. Produz conteúdo web, abrangendo diversos temas, e realiza trabalhos de tradução e versão em Português-Espanhol.