O ano era 1966 e a irmã Dorothy Stang escolheu o Brasil para realizar a sua missão. O destino escolhido foi a cidade maranhense de Coroatá. A proximidade da região com o Norte brasileiro fez com que a religiosa acabasse voltando o seu trabalho para a Amazônia.
Irmã Dorothy estava presente na Amazônia desde a década de setenta junto aos trabalhadores rurais da Região do Xingu.
Sua atividade pastoral e missionária buscava a geração de emprego e renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas, junto aos trabalhadores rurais da Transamazônia.
Esses trabalhadores foram os responsáveis por construir a BR-230 conhecida como Rodovia Transamazônica, iniciada em 1969 por ordem do presidente Médici.
Com 4.223 quilômetros, ela sai do estado da Paraíba até a cidade de Lábrea, no estado do Amazonas. Sua extensão corta 7 estados brasileiros: Amazonas, Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará e Paraíba.
O papel da irmã Dorothy junto a essas trabalhadores era de extrema importância, pois ela atuava em defesa dos conflitos sociais.
A história da irmã Dorothy se confunde com a de muitos trabalhadores nordestinos. Em uma época difícil para os mais pobres, eles acabaram migrando para o Pará de olho na oferta de trabalho da Transamazônica.
Foi então que a irmã Dorothy também decidiu ir para o Pará em 1982 e se fixou na Vila de Sucupira, no município de Anapu. De acordo com uma amiga e missionária da religiosa Rebeca Spires, em entrevista à Agência Brasil, Stang disse: “nosso povo está migrando para o Pará. Vamos também. A gente não pode deixar o povo ir embora e ficar aqui”. Foi por esse motivo que viemos”.
Ainda à agência, essa Spire lembrou o pedido que escutou da irmã Dorothy: “você tem que aprender a Bíblia em português, mas tem que aprender o Estatuto da Terra, porque nós trabalhamos com lavradores e eles têm que saber como defender seus direitos. Os direitos que a lei reconhece, a gente tem que conhecer e ensinar o povo para eles saberem como batalhar por si. A gente não vai ficar a vida inteira batalhando por eles, eles que têm que fazer”.
E esse era o lema da irmã Dorothy: atuar nos movimentos sociais no Pará e intermediar os conflitos fundiários. Ela fez parte da Comissão Pastoral da Terra ainda na sua fundação e liderava os diálogos entre as lideranças locais, políticas e religiosas.
Durante esse tempo, a religiosa fundou a primeira escola de formação de professores em Anapu, a Escola Brasil Grande.
Por conta do seu trabalho, ela foi ameaçada várias vezes e uma das suas frases mais famosas foi a que falou em relação à essa perseguição: “não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”.
A irmã Dorothy Stang foi assassinada em 12 de fevereiro de 2005. Ela foi vítima de uma emboscada quando transitava por um estrada de terra no município de Anapu.
Nesta época, ela trabalhava a favor da implantação do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança em comunidades extrativistas da região. Isso ia de encontro com os poderosos da região que por diversas vezes a ameaçaram.
Segundo uma testemunha que viu o crime acontecer, ao ser abordada pela dupla de assassinos, a irmã mostrou a bíblia e disse: “eis a minha arma” e ainda leu alguns trechos do livro sagrado.
Em seguida seu algoz, Rayfran das Neves Sales, lhe matou com seis tiros, sendo um na cabeça e outros no restante do corpo. Tudo isso assistido pelo seu comparsa, também pistoleiro, Clodoaldo Batista.
O corpo da missionária está enterrado no município que ela escolheu para defender “os pobres mais pobres”, como ela mesma se referiu ao pedir autorização do bispo para trabalhar em Anapu, no Pará.
As investigações confirmaram a participação de 5 pessoas no homicídio: dois fazendeiros, dois pistoleiros e um capataz.
Um dos mandantes, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, foi condenado no primeiro julgamento, em 2007, a 30 anos de prisão. Na época, a lei dizia que qualquer pessoa condenada a mais de 20 anos tinha direito a um segundo julgamento.
E foi durante esse segundo julgamento, em 2008, que o fazendeiro foi inocentado graças a um depoimento do seu capataz Amair Feijoli Cunha, assumindo a culpa. A promotoria não se conformou com o resultado e pediu a anulação do julgamento.
Em 2010, houve um novo julgamento que foi adiado por uma estratégia da defesa do fazendeiro.
Por fim, em 2013, houve o último julgamento de Bida, que foi condenado novamente a 30 anos, mas como já estava preso desde 2005, acabou pegando o semiaberto, apenas 8 anos depois de ter assassinado a irmã Dorothy Stang.
Os demais envolvidos também conseguiram obter uma pena mais branda. O pistoleiro que disparou contra a religiosa Rayfran das Neves Sales foi condenado a 27 anos de prisão, mas acabou passando para prisão domiciliar.
O segundo pistoleiro, Clodoaldo Batista, pegou uma pena de 17 anos e já estava cumprindo o semiaberto quando fugiu em 2011.
Já o capataz que contratou os pistoleiros a mando dos fazendeiros, Amair Feijoli Cunha, chegou a ser condenado a 27 anos de prisão, mas já cumpre prisão domiciliar.
Há ainda outro fazendeiro acusado de envolvimento no assassinato da freira, o Regivaldo Pereira Galvão. Ele foi condenado a 30 anos de prisão, mas foi preso somente em 2017, pois seu direito de aguardar o recurso de 2010 em liberdade foi suspenso. Ele é o único que se encontra preso atualmente.