Em sua obra “História Concisa da Literatura Brasileira”, o pesquisador Alfredo Bosi afirma que o distanciamento do fulcro subjetivo é a norma proposta ao escritor realista, e a aceitação da existência tal qual ela se apresenta desdobra-se nos níveis ideológico e estético.
Ainda de acordo com Bosi, o Realismo se tinge de naturalismo [1], tanto no romance quanto no conto, sempre que os personagens e enredos submeterem-se ao destino das leis naturais que a ciência daquela época julgava ter codificado.
Zola, cuja obra é considerada a fundadora do naturalismo, busca aprofundar o cientificismo, demonstrando que o escritor deve colocar a observação e experiência acima de tudo.
O crítico literário brasileiro ressalta que não se deve cavar um fosso entre as obras dos grandes criadores do romance moderno (Stendhal, Balzac, Dickens, Lesage, Diderot, Jane Austen) e as de Flaubert, Maupassant, Verga, Thackeray e Machado. Isso porque, nas criações dos primeiros já era possível observar poderosos dons de observação e de análise.
A produção literária do realismo, devido à influência do Positivismo, acabou surgindo com temas que norteiam os princípios dessa corrente filosófica. Por exemplo, a reprodução da realidade observada e a objetividade no compromisso com a verdade.
Dessa forma, são comuns a imparcialidade, personagens baseados em pessoas comuns, sem idealização dos humanos, condições sociais e culturais expostas, linguagem de fácil entendimento, lei da causalidade, ou seja, toda ação tem sua reação.
No Brasil, o Realismo acabou sendo modificado por nossas tradições e pelas contradições da sociedade, reforçadas pelos movimentos republicano e abolicionista. A partir do surgimento de novas perspectivas com base científica, foi possível o nascimento de uma literatura mais engajada, renovadora e preocupada com a linguagem.
A sociedade vivia o progresso tecnológico com o avanço da energia elétrica, novas máquinas – como o carro – que visavam facilitar a vida, entre outras coisas.
Além disso, destacavam-se correntes filosóficas como o Positivismo, o Determinismo, o Evolucionismo e o Marxismo. No entanto, dentre esses, o que mais influenciou no surgimento do Realismo foi o Positivismo [2], que analisa a realidade por meio de observações e constatações racionais.
O movimento, que se desenvolveu na segunda metade do século XIX, buscava essencialmente abordar temas sociais e a objetivação da realidade do ser humano e envolveu diversas formas de arte.
No Brasil, o Realismo nasceu em consequência da crise causada pela queda da economia açucareira, o crescimento da influência dos estados do sul do país e o crescente descontentamento da burguesia.
As ideias de Comte, Spencer, Darwin e Haeckel conquistaram os intelectuais brasileiros, com Tobias Barreto, ideólogo da Escola de Recife, como o grande divulgador do movimento.
Considera-se que o marco inicial do Realismo e Naturalismo no Brasil ocorre em 1881, com o aparecimento da obra realista “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, e da naturalista “O Mulato”, de Aluísio Azevedo. Em seguida, surgiram outros escritores realistas [3].
O movimento se estende até o início do século XX, quando surge uma nova estética, o Pré-Modernismo [4], com a publicação da obra “Canaã”, de Graça Aranha.
Nem todos sabem, mas o Realismo se estendeu para outras formas de arte além da literatura. Esse foi o caso das artes plásticas e do teatro. Por isso, confira a seguir mais detalhes sobre essas expressões durante o movimento realista no Brasil e no mundo.
De forma eficaz, o realismo foi retratado nas pinturas com cenas dos cotidianos de camadas pobres da sociedade. Com cores fortes, as pinturas expressavam a tristeza e a realidade da vida em comunidades das classes mais baixas.
Entre seus principais artistas, encontra-se o francês Gustave Courbert, cujas obras chocaram o público exatamente pelo alto grau da realidade nas temáticas sociais.
Suas três telas expostas no Salão de 1950, intituladas “Enterro em Ornans”, “Os Camponeses em Flagey” e “Os Quebradores de Pedras”, marcam o compromisso do artista com o programa realista, descartando qualquer tipo de ilusionismo.
Além dele, outros pintores se destacaram como Jean-François Millet, Edouard Manet e Honoré Daumier.
No Brasil, não encontramos feições realistas como a de Courbet ou Miller. Sendo assim, o realismo brasileiro encontra-se traduzido em paisagistas como Georg Grimm, Modesto Brocos, Benedito Calixto, Castagneto, José Pancetti, entre outros.
O herói romântico, antes utilizado no teatro, passou a ser trocado por pessoas comuns, que vemos diariamente pelas ruas. O teatro realista, assim como as outras formas de expressão de arte, demonstrava os problemas sociais com linguagens simples e palavras comuns para o povo.
Alexandre Dumas, dramaturgo francês, foi o primeiro representante desta fase. Como uma de suas obras de destaque podemos citar “A Dama das Camélias”.
O realismo, na literatura, carregava um caráter social e psicológico, além da abordagem de temas considerados polêmicos para a sociedade da época. Havia críticas direcionadas à Igreja Católica, às instituições sociais e à burguesia.
Além disso, os autores criticavam em suas obras a intolerância, a exploração social e o preconceito, sempre fazendo uso de linguagem clara e objetiva. A caracterização psicológica das personagens dá-se através da exposição de seus pensamentos, hábitos e contradições, revelando a imprevisibilidade de suas ações.
A obra que marca o início do realismo na literatura é “Madame Bovary“, de Gustave Flaubert. Entre outros autores, podemos citar Machado de Assis [5], Raul Pompéia, Charles Dickens, Eça de Queiroz e Leon Tolstói.
No Brasil, a obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas [6]” marca o início do movimento, em 1881. Isso porque, ela rompe com a narração linear e objetivista de autores consagrados da época, retratando o Rio de Janeiro e sua época com pessimismo, ironia e indiferença.
REALISMO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3639/realismo. Acesso em 1 de julho de 2018. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
Centro Interinstitucional de Linguística Computacional. “Realismo-Naturalismo“. Disponível em: nilc.icmc.usp.br/nilc/literatura/realismo.naturalismo1.htm.Acesso em 1 de julho de 2018.
BOSI, Alfredo. “História Concisa da Literatura Brasileira“. Cultrix, ed. 50, 2015.