Gramática,Português

Regência verbal

O gramático Domingos Paschoal Cegalla define regência como “o modo pelo qual um termo rege outro que o complementa.” Na gramática normativa da língua portuguesa, a sintaxe de regência se ocupa das relações de dependência que as palavras mantêm na frase, subdividindo-se em regência nominal e regência verbal.

A regência verbal, tema deste artigo, diz respeito à relação que se estabelece entre os verbos e os termos que os complementam ou caracterizam, sendo que o verbo é o termo regente e o complemento, o termo regido. 

Transitividade dos verbos

Para compreendermos bem a regência verbal dos verbos, também devemos saber que eles podem ser classificados quanto à sua transitividade. Os verbos podem ser intransitivos e transitivos.

Regência verbal

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Verbos Intransitivos

Os verbos intransitivos não exigem complemento, pois têm sentido completo. Exemplo: As folhas caíram.

Verbos Transitivos

Os verbos transitivos são divididos em: transitivos diretos, transitivos indiretos e transitivos diretos e indiretos (bitransitivos).

Transitivos diretos: são os verbos que pedem um objeto direto, isto é, um complemento sem preposição. Exemplo: Li o artigo que você publicou.

Os verbos transitivos diretos incluem os seguintes: abandonar, aborrecer, acusar, abraçar, admirar, auxiliar, conhecer, convidar, defender, eleger, estimar, humilhar, namorar, prejudicar, proteger, respeitar, suportar, ver, visitar etc.

Transitivos indiretos: são os que exigem complemento com preposição, chamado objeto indireto. Exemplo: Gostamos do apartamento e da vizinhança.

Entre os verbos transitivos indiretos estão: consistir, responder, simpatizar etc.

Transitivos diretos e indiretos (bitransitivos): são os que se usam com dois objetos, um direto e outro indireto, ao mesmo tempo. Exemplo: Ceda o lugar aos mais velhos.

Os principais verbos bitransitivos são: atirar, atribuir, dar, doar, ceder, apresentar, ofertar, oferecer, pedir, prometer, explicar, ensinar, proporcionar, perdoar, pagar, preferir, devolver etc.

 Regência verbal

De acordo com o gramático Domingos Paschoal Cegalla, há verbos que admitem mais de uma regência sem mudar de sentido. Confira alguns exemplos a seguir, retirados da “Novíssima Gramática da Língua Portuguesa”:

-A aurora antecede o dia.
-A aurora antecede ao dia.

-José não tarda a chegar.
-José não tarda em chegar.

-Desfrutemos os bens da vida.
-Desfrutemos dos bens da vida.

Outros verbos assumem outra significação quando se muda a regência. Observe os exemplos a seguir, também retirados da gramática de Cegalla:

-Aspirei o aroma das flores. (= sorver, absorver)
-Aspirei ao sacerdócio. (= desejar, pretender)

-Ele não precisou a quantia. (= informar com exatidão)
-Ele não precisou da quantia. (= necessitar)

Alguns casos

Vejamos alguns verbos com suas regências e acepções na língua atual.

Assistir

Transitivo direto, quando significa “prestar assistência, confortar, ajudar”.

Exemplos:

-A enfermeira assiste o doente.

-“Ele sofreu sozinho, não o assisti.” (Carlos Drummond de Andrade)

Transitivo indireto (com a preposição “a”), no sentido de “presenciar, estar presente a”.

Exemplos: 

-Algumas pessoas assistiam ao espetáculo.
-Por que não assistiu às aulas?

Agradar

No sentido de “causar agrado, contentar, satisfazer, aprazer”, usa-se, mais frequentemente, com objeto indireto.

Exemplos:

-A banda agradou ao público.
-Minha sugestão não lhe agradou.

Usa-se como verbo intransitivo na acepção de “causar satisfação, ser agradável ou atraente”.

Exemplos: 

-A exibição do grupo de dança não agradou.
-Nada agrada tanto quanto uma boa canção.

Ansiar

É transitivo direto na acepção de “causar mal-estar, angustiar”.

Exemplo: 

-“O cansaço ansiava-o.” (Camilo Castelo Branco)

Com o significado de “desejar ardentemente”, em geral, é transitivo indireto (preposição “por”) e, às vezes, transitivo direto. Confira os exemplos a seguir, retirados da “Novíssima Gramática da Língua Portuguesa”:

-“Ansiava pelo novo dia que vinha nascendo.” (Fernando Sabino)
-“Viagem longa é para quem anseia voltar.” (Jorge Amado)
-“Ansiava por me ver fora daquela casa.” (Machado de Assis)