Revolução Verde

A expressão “Revolução Verde” teve expansão a partir da década de 1960, embora seus ideários já estivessem sendo praticados desde pelo menos a década de 1940, com maior significado no México, sendo posteriormente difundidos para outras partes do mundo.

A partir da década de 1940 foram notadas significativas mudanças nas formas pelas quais a produção agrícola era feita no mundo, empregando-se maior uso de tecnologias com vistas ao aumento da produtividade.

Assim, entende-se que poderia haver uma mais intensa produção de gêneros agrícolas em um menor espaço cultivável. Um aumento da produção é algo positivo quando se refere a possibilidade de suprir as necessidades das populações.

No entanto, da forma como é feita atualmente ela acaba por privilegiar alguns grupos, deixando ainda sem recursos mínimos uma expressiva parcela da população mundial.

Além disso, o modelo de produção agrícola em larga escala, com uso de tecnologias como fertilizantes e sementes geneticamente modificadas, acaba trazendo também profundos danos ao meio ambiente.

A Revolução Verde

A Revolução Verde marca um período de grandes mudanças na forma pela qual a produção agrícola é vista no mundo. Embora seu nome denote uma revolução na questão ambiental, ela não foi exclusivamente positiva, pois trouxe inúmeros problemas, afetando em muito a natureza.

Trator agrícola

A Revolução Verde tinha como objetivo aumentar a produção agrícola em um menor espaço (Foto: depositphotos)

O conceito de “Revolução Verde” é atribuído formalmente à Willian Gown, o qual teria desenvolvido na década de 1960 uma estratégia para supostamente acabar com a fome no mundo.

A questão consistia basicamente em aumentar a produção dentro de um dado espaço agricultável, ou seja, intensificar a produção ocupando menor espaço para isso.

No entanto, é reconhecido que os princípios da Revolução Verde se estabeleceram ainda na década de 1940, quando Norman Borlaug, um cientista de origem americana e profundo interessado em agricultura, realizou pesquisadas importantes no México, as quais deram origem ao modelo da Revolução Verde.

Em suas pesquisas, Norman Borlaug desenvolveu novas variedades de trigo de alto rendimento, as quais eram mais resistentes à doenças. Assim, com a combinação das variedades de trigo e o emprego de novas e modernas tecnologias (para aquela época), o México conseguiu uma grande produção de trigo, bem maior do que a necessária para seus cidadãos.

Com isso, foi possível a exportação dos excedentes de trigo mexicano na década de 1960, sendo que antes disso, o México importava cerca de metade do trigo de que necessitava. Esse modelo fez um grande sucesso, espalhando-se pelo mundo posteriormente.

A grande produção permitia que a população interna fosse abastecida, permitindo ainda que o restante fosse exportado, gerando lucro. Os Estados Unidos, que na década de 1940 importavam também praticamente a metade do trigo de que necessitavam, tornaram-se autossustentáveis ainda na década de 1950.

Já na década de 1960, o país passou a exportar trigo também. Com as bases da Revolução Verde isso foi possível, o que modificou as formas pelas quais o setor agrícola era visto no mundo.

Investimentos na área

Duas importantes instituições mundiais se interessaram pela questão da Revolução Verde no contexto, que são a Fundação Rockefeller e a Fundação Ford, ambas financiando pesquisas na área da expansão das atividades agrícolas.Revolução verde

Várias agências governamentais também se interessaram na questão e financiaram estudos na área, sendo também importante a criação do “Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo”, em 1963 no México.

Com o incentivo da Fundação Rockefeller e da Fundação Ford, foi possível o desenvolvimento de uma nova variedade de arroz na Índia, a qual tem a capacidade de produzir uma quantidade muito maior de sementes por planta do que a planta original. Tudo isso através do uso de recursos tecnológicos como irrigação e fertilizantes.

Todo esse processo ocasionou uma modificação nas características originais das plantas, permitindo que estas produzissem mais, ou até mesmo grãos maiores, tudo para aumentar o rendimento e os lucros.

Os dois maiores pilares da Revolução Verde são basicamente o uso dos fertilizantes e o auxílio das técnicas de irrigação. As plantas modificadas pelos conhecimentos advindos da Revolução Verde só são bem-sucedidas quando há o uso de recursos tecnológicos, principalmente para fertilização.

 

Imagem: a Revolução Verde levou a tecnologia para o cultivo agrícola, empregando técnicas modernas e ampliando a produção. O problema é que a monocultura criou enormes extensões verdes, mas sem nenhuma diversidade, excluindo as espécies tradicionais.

Problemas do modelo de produção da Revolução Verde

As ideias da Revolução Verde, embora aclamadas por muitos, carregam também vários problemas socioambientais. Um primeiro problema está na distorção que houve em relação aos beneficiados pelas práticas produtivas advindas da Revolução Verde.

Isso porque, a experiência do México mostrou que a produção abasteceria primeiramente o mercado consumidor interno, sendo posteriormente exportados os excedentes.

No entanto, no contexto atual, diante da busca desenfreada pelo lucro, são exportados os melhores produtos, visando-se abastecer as necessidades do mercado consumidor externo. Portanto, ficam os refugos ou produtos de baixa qualidade para a população interna (pelo menos no caso do Brasil).

Além disso, a produção é feita em um modelo de monocultura, ou seja, é produzido apenas um tipo de grão (soja, milho, trigo) em uma vasta extensão de terras. Isso ocasiona vários danos, como a redução das variedades existentes.

Um exemplo disso é que nem todo mundo sabe que existem inúmeras variedades tradicionais de milho (milho crioulo), porque o único que é disseminado é aquele amarelo. O mesmo acontece com frutas, sementes, legumes, verduras, com praticamente tudo o que teve sua produção ampliada.

A produção em larga escala não veio para sanar com o problema da fome no mundo, como imaginava-se de princípio. Isso ocorre porque a maior parte da produção de grãos vai para alimentação de bovinos, na produção da carne, e nem todo mundo tem acesso a alimentação com carne frequentemente.

Com a ampliação deste modelo produtivo, maiores quantidades de terras são necessárias, originando os chamados “latifúndios”, que são grandes extensões agricultáveis e monocultoras. Com isso, cresce o desmatamento, a expropriação de comunidades tradicionais e indígenas, bem como de pequenos produtores.

Além disso, deixou-se de lado conceitos tradicionais de produção e cuidado com a terra, como a rotação de culturas e a conservação dos solos, o que tem gerado profundos danos ambientais.

Assim, a tecnologia veio sim para ajudar em muitas coisas no progresso material da humanidade, inclusive ampliando a qualidade de vida da população. No entanto, tudo isso tem também um lado negativo, que é o fato de colocar-se a lucratividade, ou o financeiro, acima dos princípios de cuidado com a humanidade e dos recursos naturais.

Referências

BRINEY, Amanda. “All You Wanted to Know About the Green Revolution“. Disponível em: https://www.thoughtco.com/green-revolution-overview-1434948. Acesso em 08 dez. 2017.

ESTERGILDA, Ieda. “Uma vida no campo“. Entrevista com Ana Maria Primavesi. Disponível em: https://www.paulinas.org.br/familia-crista/?system=news&action=read&id=13134. Acesso em 08 dez. 2017.

VESENTINI, José William. “Geografia: o mundo em transição“. São Paulo: Ática, 2011.

Sobre o autor

Mestre em Geografia e Graduada em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Especialista em Neuropedagogia pela Faculdade Alfa de Umuarama (FAU) e em Educação Profissional e Tecnológica (São Braz).