Porém, o que parecia ser um apelo com forte conotação sexual, acabou ganhando outros contornos. Pois os estudantes não só pediam para ficar mais próximos do sexo oposto, como também reivindicavam por mais espaço nas decisões do centro universitário.
Tudo parecia ser um conflito local, não fosse pelo fato como as autoridades francesas veriam os protestos dos estudantes de Nanterre: uma ameaça que precisava ser reprimida. Foi aí onde tudo mudou.
Por conta da violência aplicada contra os estudantes, outras universidades foram aderindo às manifestações. Aos poucos, a Universidade de Sorbonne e a Universidade de Paris aderiram às causas e começaram também a pedir por reformas educacionais.
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Não demorou muito para a luta dos estudantes inspirar também os operários, que buscavam por melhores salários frente à inflação crescente que assolava o país e fazia com que seus salários perdessem rapidamente o poder de compra.
Em pouco tempo, os dois segmentos estavam unidos e realizando a maior greve que se tem história até hoje no mundo, com quase 10 milhões de europeus em estado de greve.
A essência dos protestos de Maio de 68 nasceu ainda na Revolução Francesa de 1789, cujos ideais eram ‘Liberdade, Igualdade, Fraternidade’, traços marcantes do Iluminismo. Essas aspirações permaneceram firmes no espírito francês. É o que alguns especialistas chamam de ‘culto à revolução’.
Foi essa cultura que teria dado origem aos protestos de Maio, mesmo mais de 200 anos depois. O país estava mergulhado em uma cultura revolucionária que dava asas ao espírito dos estudantes universitários franceses.
Os movimentos na França em maio de 68, aos poucos, influenciaram outras nações. Conheça agora como ela se deu no mundo:
O ano de 1968 era o auge da Guerra Fria e os Estados Unidos, seu maior protagonista junto à União Soviética. Mas, além disso, a Terra do Tio Sam participava da Guerra do Vietnã.
A participação dos soldados americanos nesse conflito não deixava boa parte dos americanos satisfeitos. Logo, o movimento de Maio de 68 na França acabou influenciando os estudantes americanos a saírem às ruas para pedir pelo fim da participação dos conterrâneos nessa guerra em território asiático.
Na verdade, esse ano não foi o mais importante em relação às conquistas estudantis nos EUA, mas deu um bom indício do que viria nos anos posteriores, entre 1969 e 1971. Outra característica diferente do movimento francês é que os operários não aderiram ao movimento estudantil, como aconteceu no Velho Continente.
Não só as nações do Ocidente aderiram ao Maio de 68. Alguns países do Leste Europeu também promoveram manifestações.
A República Tcheca, antes Tchecoslováquia; a Polônia; e os países que hoje são Eslovênia, Croácia, Montenegro, Macedônia, Bósnia e Sérvia, antes Iugoslávia; também participaram do movimento.
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Na Polônia, tudo começou quando uma peça teatral chamada de ‘Os antepassados’ foi censurada. No segundo território, os protestos foram mais brandos e logo contornados pelo primeiro-ministro juguslavo à época.
No Brasil, as movimentações de 68 se assemelharam mais com os protestos franceses.Embora a situação, por aqui, estava ainda mais grave, pois o país enfrentava uma ditadura e, justamente, nesse ano, o governo implantou o AI-5.
O Ato Institucional 5 marcou história ao aumentar ainda mais a repressão durante o governo militar. Foi o presidente Artur da Costa e Silva que instalou 12 artigos que concedia inúmeros poderes a ele próprio, como: cassar mandatos, intervir em governos locais, suspender direitos políticos.
Entre as consequências mais graves do AI-5, está a de fechar o Congresso e assumir suas funções. O que veio a ocorrer logo depois de publicado o Ato Institucional.
O cenário era de repressão e violência. O ano de 1968 marcou também o assassinato do estudante Edson Luís de Lima Souto, de 16 anos, durante um conflito com a Polícia Militar; atentados contra o Jornal Folha de S. Paulo e contra a Bolsa de Valores de SP; a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, organizada pelos estudantes, entre outras atividades marcantes na luta pela democracia brasileira.
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Se você quer saber mais sobre os protestos de Maio de 68 pode consultar inúmeras obras de literatura, cinema e até música para entender mais sobre esse época que marcou o mundo. Algumas sugestões são:
As sugestões de filmes são: Hair, de Milos Forman; A insustentável leveza do ser, de Philip Kaufman; Os sonhadores, de Bernardo Bertolucci; Os Educadores, de Hasn Weingarther; e Batismo de Sangue, de Marcélia Cartaxo.
Na música, destaque no Brasil para Caetano Veloso e os Mutantes com a canção ‘É proibido proibir’; Chico Buarque e Tom Jobim cantavam ‘Sabiá’ e Geraldo Vandré entoava ‘Pra não dizer que não falei de flores’.
O maior expoente brasileiro na literatura é o jornalista Zuenir Ventura com sua obra ‘1968: o ano que não terminou’; ‘Esqueça 68’ é o livro do líder estudantil Daniel Cohn-Benedit, que virou um símbolo francês durante as manifestações de 68; e ‘1968 – Eles só queriam mudar o mundo’ de Regina Zappa e Ernesto Soto.
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