Marielle era crítica ferrenha da intervenção federal que se estabeleceu no Rio de Janeiro em fevereiro de 2018 e frequentemente acusava a Polícia Militar de matar gente inocente nas comunidades mais pobres do município. Uma dia antes de ser executada ela publicou em sua rede social: “quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”.
Logo após sua morte, vários boatos começaram a surgir na tentativa de difamar a imagem da ativista. Um deles daria conta que a vereadora era ex-namorada de um famoso traficante preso há mais de 20 anos e que teria até uma filha com ele.
Pensando nisso, a assessoria de Marielle Franco criou um site para apresentar a história de vida da vereadora. Confira agora a biografia da ativista.
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Filha de Marinete e Antônio Francisco da Silva Neto, Marielle Franco nasceu 1980, no Complexo da Maré, conjunto de favelas localizadas na Zona Norte carioca. Com apenas 11 anos, começou a trabalhar para ajudar a família.
Teve uma breve passagem ainda na juventude na equipe do Furacão 2000, uma equipe de som, gravadora e produtora de shows de funk. Em 1998, nasceu sua única filha e, nesse mesmo ano, ela começou a fazer cursinho pré-vestibular.
Em 1998, uma tragédia pessoal marcou a vida de Marielle: uma das suas melhores amigas morreria após ser atingida por uma bala perdida em um confronto entre policiais e traficantes da Maré. Seria essa dor que impulsionaria a jovem a ingressar na luta pelos direitos humanos.
Sobre essa fase da sua vida, Marielle explica no seu site: “iniciei minha militância em direitos humanos após ingressar no pré-vestibular comunitário e perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo da Maré. Aos 19 anos, me tornei mãe de uma menina. Isso me ajudou a me constituir como lutadora pelos direitos das mulheres e debater esse tema nas favelas”.
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Em 2002, a vereadora conseguiu entrar na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, a Puc-RJ, para o curso de Ciências Sociais. Bolsista do Prouni, o Programa Universidade para Todos, ela se formou e seguiu carreira acadêmica na Universidade Federal Fluminente, a UFF, fazendo mestrado.
A tese tinha tudo a ver com o que Marielle defendia. Sobre isso, a vereadora explicou em seu site: “Me formei pela PUC-Rio, e fiz mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Minha dissertação teve como tema: “UPP: a redução da favela a três letras”.
Em 2006, ela começou a atuar no campo político logo depois que seu amigo Marcelo Freixo foi eleito deputado pelo estado do Rio de Janeiro. Isso daria início a uma parceria de 10 anos, até que Marielle conquistou o seu próprio cargo de vereadora.
No site oficial, há menção aos trabalhos desenvolvidos nessa época: “Trabalhei em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm). Coordenei a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado de Marcelo Freixo”.
Enquanto parlamentar, Marielle presidiu a Comissão de Defesa da Mulher e, quando foi executada, integrava uma comissão para monitorar a intervenção federal no Rio de Janeiro.
Conheça três projetos de lei da vereadora que eram destaques na sua agenda:
Esse projeto tinha por objetivo acabar com o assédio sofrido pelas mulheres dentro dos transporte público, pois a cada 16 horas, uma mulher denuncia que sofre esse tipo de violência no RJ.
Projeto para estimular a criação de casas de parto nas zonas de menor IDH do município. A iniciativa visa reproduzir o sucesso da Casa de Parto de Realengo, cujo número de partos já ultrapassa os 3.000 partos, sem nenhuma morte de mães.
Esse projeto visa o atendimento dos pais e mães que trabalham ou estudam à noite e não têm onde deixar os seus filhos pequenos. A ideia é criar um Espaço Infantil Noturno no Rio.
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A respeito dos boatos mentirosos que visavam manchar a biografia de Marielle Franco, sua assessoria se pronunciou no site oficial da vereadora.
“No dia 14 de março, Marielle Franco foi assassinada a tiros junto com Anderson Gomes, seu motorista, quando voltava de um evento com jovens negras. A dor da sua morte e de tudo o que ela simbolizava desencadeou homenagens emocionadas em redes sociais e grandes manifestações nas ruas pelo Brasil e no mundo. Mas também gerou uma série de acusações falsas sobre a sua história e sua atuação”.
A nota finaliza com: “esse ataque à Marielle é simplesmente inadmissível. Uma coisa é debater sobre posicionamentos políticos. Outra bem diferente é caluniar, repercutir mentiras e desrespeitar a sua memória e o luto de seus familiares e amigos”.
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