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Simón Bolívar: biografia completa

A história da América Latina é diretamente associada a dois fatores: a colonização espanhola e a Simón Bolívar. Sua importância foi tão grande que existem estátuas e bustos que buscam lembrá-lo, espalhadas pelo mundo.

E não é a toa, ele foi o primeiro a falar sobre descolonização da América espanhola e, por isso, ficou conhecido como o libertador. Seu nome também deu os contornos para a criação de uma ideologia latino-americana, o bolivarianismo. Conheça mais sobre a biografia de Simón Bolívar e sua importância, a seguir.

Quem foi Simón Bolívar?

Ao contrário do que se espera dos grandes heróis populares, Simón Bolívar nasceu em uma família aristocrata muito rica.

Simon Bolívar

Simón Bolívar herdou do pai a carreira militar e depois se tornou político (Foto: Reprodução | Wikimedia Commons)

Na América espanhola a divisão de classes se dava por meio de uma pirâmide de poderes, sendo:

Chapetones espanhóis: nascidos na Espanha e levados para a América. Eram os maiores detentores de poder, uma espécie de extensão do governo espanhol na América.

– Criollos: pessoas brancas de origem espanhola, mas nascidas em território latino. Eram proprietários de terras e comerciantes, mas totalmente subjugados ao poder dos chapetones. É a essa classe que a família de Simón Bolívar pertencia.

Mestiços: pessoas de pele alaranjada, com sangue dos povos nativos, mas misturados com espanhóis. Em sua maioria, pessoas muito pobres e sem nenhum acesso às riquezas do país.

Nativos: povos originários resistentes.

Negros escravizados.

É em uma conjuntura de extrema exploração colonial que Simón Bolívar vai se formar, tendo um olhar mais sensibilizado e de entendimento que uma América do Sul livre é uma América do Sul melhor para se viver.

Infância

Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palacios Ponte-Andrade y Blanco, nome completo de Simón Bolívar, nasceu no dia 24 de julho de 1783, em Caracas, na Venezuela, em uma rica família criolla. Com três anos de idade perdeu o pai e, em menos de 10 anos, também perdeu a mãe. Foi então criado na casa dos avós. Um tempo depois se mudou e foi morar com o seu tio, Carlos Palacios.

Durante a sua infância órfã, sob a tutela do seu professor Simón Rodrígues, Bolívar teve acesso aos ideais humanistas: repúdio ao colonialismo, independência e unificação de todo o território da América Latina.

Militar

Em 1797, aos 14 anos, Simón Bolívar ingressou na carreira militar como primeiro cadete. Ele vai carregar o aspecto militar pelo resto da vida. Acredita-se que essa primeira imersão no universo militar tenha sido uma tentativa de resgate da sua herança paterna, já que o pai era coronel do batalhão em que Bolívar entrou.

Estátua de Simon Bolívar

Diversas estátuas de Simón Bolívar estão espalhadas mundo afora, especialmente na América Latina (Foto: depositphotos)

Europa

Aos 16 anos foi para a França com a finalidade de estudar até depois da sua maioridade. Durante seu processo de formação em Paris, Bolívar foi fortemente influenciado pelo iluminismo. Seu despertar político aconteceu durante as suas observações de Napoleão Bonaparte, figura de referência para ele. Simón Bolívar estava durante a coroação de Bonaparte como imperador.

Em 1801, aos 18 anos, Bolívar se casa com María Teresa Rodríguez Del Toro e Alaysa, um ano depois fica viúvo.

Durante a sua passagem pela Europa, Simón Bolívar ficou muito amigo de um dos naturalistas mais importantes da ciência americana, o barão prussiano Alexandre Von Humboldt. Ele foi o responsável pela catalogação de mais de 400 vulcões e pela descoberta de uma corrente marítima que hoje carrega o seu nome na costa peruana. Bolívar deixou registrado seu apreço e admiração pelo amigo ao dizer que ele teria sido o verdadeiro descobridor da América, devido a sua grande importância nos registros naturais da região.

Juramento do Monte Sacro

Em 1805, com 22 anos, Simón Bolívar vai protagonizar um episódio que será um marco na sua trajetória de vida. Na colina do Monte Sacro, na Roma Antiga, ele fez o juramento de libertar a América do domínio espanhol. O momento só foi presenciado por dois amigos. O Monte Sacro é um ponto histórico, famoso pela insurreição dos plebeus contra o poder dos aristocratas opressores.

Regresso à Venezuela

Em 1806, a Venezuela passou pelos primeiros processos de tentativa de independência, chefiados pelo general Francisco Miranda. Simón Bolívar tomou conhecimento desse movimento e então decidiu regressar para sua cidade natal. Antes, passou pelas unificações dos Estados Unidos da América, onde se inspirou para pensar em uma América Latina unificada.

Manifesto de Cartagena

Quando ele chegou em seu país, se aliou a Francisco Miranda. No entanto, suas forças foram vencidas pelos espanhóis e Bolívar precisou se refugiar em Cartagena das Índias, onde redigiu o Manifesto de Cartagena, um documento que narra com precisão a queda da independência da Colômbia e Venezuela.

A Espanha dominava a maior parte da América Latina no começo do século XIX. Mesma época em que acontecia a Revolução Francesa e as independências dos Estados Unidos e do Haiti. Esses fatos inspiravam as elites locais das colônias.

Juntas insurrecionais

Quando Napoleão ocupou a Espanha, os criollos reagiram e fundaram as juntas insurrecionais, que questionavam o poder do império e revelavam antigas rivalidades em conflitos armados. O quadro volta a mudar com a restauração da monarquia em 1814. Fernando VII assume e coloca mais lenha na fogueira ao tentar reconquistar os territórios perdidos.

É nessa conjuntura que dois nomes importantes se tornam conhecidos como os libertadores da América: Simón Bolívar e San Martin.

El Libertador

Estátua de Simon Bolívar

Simón Bolívar é chamado de El Libertador (Foto: depositphotos)

Em 1813, Simón Bolívar liderou a invasão da Venezuela, tomando a sua capital Caracas e estabelecendo a 2ª República Venezuelana. Um tempo depois, Bolívar também entra na Bolívia e toma Bogotá. Ele passa a ser chamado de El Libertador.

No entanto, essa ainda não vai ser a retomada da América Latina do poder espanhol, Bolívar acaba perdendo a sua liderança e precisa se refugiar na Jamaica.

Carta da Jamaica

As tentativas de tirar a América do domínio espanhol se estenderam até 1815. Não obtendo sucesso, Bolívar se exila na Jamaica, onde escreveu a famosa carta da Jamaica, onde explicava o grande projeto de união da América espanhola numa tentativa de negociar o apoio da Grã-Bretanha.

A carta da Jamaica é um documento extenso, mas cheio das idealizações de América de Simón Bolívar, como podemos ver nesse trecho:

Eu desejo, mais do que qualquer outro, ver formar-se na América a maior nação do mundo, menos por sua extensão e riquezas do que pela liberdade e glória.”
O documento na íntegra pode ser acessado no site do Instituto de Estudos Latino-Americanos, da Universidade Federal de Santa Catarina.

Grã-Colômbia

Em 1821, Simón Bolívar consegue unificar a região denominada Grã-Colômbia, onde ficam os países da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Panamá. Cinco anos depois quase todo continente tinha conseguido a sua independência.

Congresso do Panamá

O congresso do Panamá, que aconteceu em 1826, foi uma tentativa de Bolívar de que houvesse uma integração continental entre os países colonizados pela Espanha. Nele, Simón Bolívar ratificou seus desejos para a América. Na sua visão, toda a extensão do continente que teve as mesmas características colonizadoras deveria se unir em uma frente política e econômica que discutiria problemas de ordem mundial, tornando-se um bloco potente.

Os Estados Unidos e a Inglaterra, em busca de novos mercados consumidores e de locais de livre exploração de matéria-prima, conseguiram barrar a união e, por isso, poucos países apareceram.

Renúncia

Em janeiro de 1830, Simón Bolívar renuncia à presidência e meses depois a Grã-Colômbia se divide nos países independentes que conhecemos hoje, deixando o sonho bolivariano de uma América Latina unificada para trás.

Morte de Simón Bolívar

Simon Bolívar de pé

Suspeita-se que Simón Bolívar morreu de envenenamento (Foto: Reprodução | Wikimedia Commons)

Alguns meses depois da sua renúncia, Bolívar morre. Segundo registros oficiais, em decorrência de uma forte tuberculose.

Em 2010, o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, autorizou que o corpo fosse exumado. A justificativa: acreditava que o ex-presidente teria sido envenenado. Depois da exumação e dos exames, a causa da morte foi dada como inconclusa, podendo ter sido por envenenamento.

O Bolivarianismo

O termo tem relação com os ideais sociais de Simón Bolívar. Ele foi o primeiro a pensar na América do Sul longe das mãos imperialistas, como uma grande nação unida pelas suas características.

Em todos os documentos deixados por ele, esses ideais estavam descritos com muita informação de como fazê-los vigorar nos países latinos.

Embora tenha morrido, seus ideais ainda permaneceram no imaginário dos povos sul-americanos que, por diversas vezes, tiveram políticos que reivindicavam essa política.

Esse conjunto de políticas trata de uma sociedade igualitária, onde educação gratuita e de qualidade seria a regra.

Nos dias atuais, a Venezuela é o país que mais reivindica essas políticas, desde o governo de Hugo Chávez até o do seu sucessor, Nicolás Maduro. Por isso ouvimos esse termo tratando a república bolivariana como sendo a Venezuela.

Os países que carregam essa tradição política são os que historicamente se basearam nas políticas bolivarianas quando Simón Bolívar era presidente da Grã-Colômbia, ou seja, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Panamá.

A Independência da América Espanhola

A independência da América espanhola passa pelo processo de politização dos criollos, que embora fossem donos de grandes pedaços de terras e parte importante da burguesia, não tinham nenhum poder político.

A época de independência dos países latinos coincide com o da ascensão das ideias iluministas da Europa. Grande parte da elite sul-americana vai beber nessa fonte e começar os processos de independência dos países.

Muitos movimentos insurrecionais entre as classes mais baixas de mestiços, povos originários e negros escravizados, foram acontecendo, como a Rebelião de Tupac Amaru e o Movimento Comunero, e deram maior força para a descolonização dessa região.

A mentalidade do mundo estava em processo de transição e alguns valores humanos estavam sendo estabelecidos. O fim da escravidão africana é um dos primeiros passos que visam uma sociedade melhor. No entanto, o mercado em pleno vapor e a consolidação do capitalismo como sistema econômico foi um empecilho para que o projeto de América Latina livre de Simón Bolívar fosse implementado.

Resumo do Conteúdo
Nesse texto você aprendeu que:

  • Simón Bolívar foi militar e líder político venezuelano.
  • Ele foi ex-presidente da Grã-Colômbia.
  • Bolívar defendia o fim da colonização espanhola e a unificação dos países latinos.
  • A promessa de libertação da América ficou conhecida como Juramento do Monte Sacro.
  • Após fracasso da unificação, ele renuncia.
  • Simón Bolívar morreu em 1930.

Exercícios resolvidos

1- Quem foi Simón Bolívar?
R: Militar e líder político venezuelano.
2- O que defendia Simón Bolívar?
R: O fim da colonização espanhola e a unificação dos países latinos.
3- Quais foram suas inspirações?
R: Napoleão Bonaparte, o Iluminismo e a independência dos Estados Unidos.
4- O que aconteceu no Monte Sacro?
R: Simón Bolívar jurou libertar a América do domínio espanhol.
5- Quais países formavam a Grã-Colômbia?
R: Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Panamá.
Referências

» Castro, Moacir Werneck de – O Libertador: a vida de Simón Bolívar. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1988.

» FREDRIGO, Fabiana de Souza. História e Memória no epistolário de Simón Bolívar. São Paulo/Franca: Universidade Estadual Paulista – Franca, 2005

» REINATO, Eduardo José. El Quijote de los Andes: Bolívar e o imaginário da independência na América – 1810-1830. Goiânia: Editora da UCG, 2000.

Sobre o autor

Historiadora e professora, com formação pela UNESA do Rio de Janeiro. Pós-graduada em edição editorial. Trabalha no ensino básico, cursinhos, ministra oficinas, é revisora e editora de livros. Sua pesquisa central é sobre livros, cinema e ditadura militar na América Latina.